OPINIÃO: OS DESAFIOS DA VOLKSWAGEN PARA FAZER O T-CROSS VENDER MAIS QUE OS RIVAIS
VW quer a liderança dos SUVs compactos, mas sofrerá resistência de Creta, HR-V, Renegade e Kicks
por GLAUCO LUCENA
27/02/2019 18h03 - atualizado às 14h14 em 28/02/2019
OPINIÃO: OS DESAFIOS DA VOLKSWAGEN PARA FAZER O T-CROSS VENDER MAIS QUE OS RIVAIS (FOTO: AUTOESPORTE)
A entrega das primeiras unidades aos compradores do Volkswagen T-Cross só começa em abril, mas um dos assuntos preferidos de quem acompanha o universo automotivo é adivinhar quanto ele venderá. Será suficiente para bater o quarteto de líderes Hyundai Creta, Honda HR-V, Jeep Renegade e Nissan Kicks? Os preços já foram revelados, numa faixa de R$ 85 mil a R$ 110 mil. Ou seja, só não é mais caro que o modelo da Honda. Quase todos os concorrentes do segmento têm versões de entrada abaixo de R$ 80 mil, além de opção PCD por R$ 70 mil, voltada para compradores com alguma limitação de mobilidade.
Ao anunciar a lista de preços, a VW afirmou que espera vender algo entre 4 mil e 5 mil unidades por mês. Se vender 4 mil, vai disputar unidade a unidade com o quarteto que protagoniza há três anos a disputa mais acirrada do mercado brasileiro. Todos eles venderam perto de 4 mil no ano passado, e o Creta só assumiu a ponta na reta final de 2018, graças a um intenso trabalho de vendas da versão PCD. Se vender perto de 5 mil, o T-Cross vai liderar o mercado, embora no acumulado do ano dificilmente tirará a diferença que o quarteto terá feito no primeiro trimestre.
VOLKSWAGEN T-CROSS 1.4 HIGHLINE FIRST EDITION (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Ou seja, liderança no ano, só a partir de 2020. A não ser que ele venda em média 6 mil unidades por mês. Pois saiba que esse sonho é acalentado pelos executivos da VW. Obviamente, eles não falam esse número em público para não gerar expectativa demais no mercado. Mas vão trabalhar firme para fazer história num segmento onde estão ingressando com 4 anos de atraso em relação aos principais concorrentes, e de 16 anos em relação ao pioneiro Ford EcoSport.
Para avaliar as chances de sucesso do T-Cross, vale conferir o ranking abaixo, que mostra quanto cada loja vendeu dos principais modelos da categoria em 2018 (dividimos a média mensal de vendas pelo número de pontos de vendas de cada marca).
Venda mensal por loja em 2018
1- Nissan Kicks: 22,2 unidades
2- Jeep Renegade: 20,2
3- Hyundai Creta: 19,2
4- Honda HR-V: 18,2
5- Peugeot 2008: 9
6- Ford EcoSport: 7,9
7- Renault Captur: 7,5
8- Renault Duster: 6,7
9- Chevrolet Tracker: 3,6
2- Jeep Renegade: 20,2
3- Hyundai Creta: 19,2
4- Honda HR-V: 18,2
5- Peugeot 2008: 9
6- Ford EcoSport: 7,9
7- Renault Captur: 7,5
8- Renault Duster: 6,7
9- Chevrolet Tracker: 3,6
O NOVATO CITROËN C4 CACTUS EM UM COMPARATIVO CONTRA O LÍDER HONDA HR-V REESTILIZADO E O HYUNDAI CRETA (FOTO: FABIO ARO)
O ranking mostra um abismo entre os quatro líderes, todos perto de 20 unidades/mês por ponto de venda, enquanto todos os outros não chegam à média de 10 carros. O Citroën C4 Catcus, recém-lançado, tem mantido uma razoável média de 12 carros por loja nos últimos meses, mesmo volume do Chery Tiggo 5X. Não incluímos na lista versões aventureiras como o Honda WR-V.
Pois bem, a VW tem uma rede de 500 lojas pelo país. Se vender uma média de 8 por loja, chegará facilmente ao patamar de 4 mil/mês dos quatro campeões de bilheteria. Se fizer 10 por loja, bate os 5 mil, e aí supera até o patamar do Jeep Compass, modelo de maior porte, mas que foi o SUV mais vendido do país nos últimos dois anos. Se chegar a 12 por loja (patamar de C4 Cactus e Tiggo 5X), realiza a meta (secreta) dos sonhos da VW, que é fazer 6 mil carros por mês.
CHERY TIGGO 5X (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Mas por que não sonhar com 20 por loja, como as quatro líderes, o que daria um volume de 10 mil unidades por mês ao T-Cross? Por vários motivos. Muitos desses 500 pontos estão em cidades pequenas, com menor movimento que os grandes centros. Mas o principal é que a novidade da VW está bem longe de ser acessível.
Se levarmos em conta os outros frutos da plataforma MQB no Brasil, o hatch Polo vem emplacando 5 mil unidades por mês, enquanto o sedã Virtus está chegando perto dos 4 mil. O T-Cross não terá versões de entrada tão acessíveis como a dupla, mas está entrando no segmento que mais cresce no país há alguns anos. Ele pode até canibalizar parte das vendas de Polo e Virtus, e tem todas as condições de ser o carro-chefe de vendas da VW, apesar do preço.
HR-V GANHOU BARRA CROMADA E FARÓIS DIFERENTES, ALÉM DE NOVO PARA-CHOQUE (FOTO: DIVULGAÇÃO)
É claro que a montadora terá de superar obstáculos para garantir o sucesso do modelo. Os concorrentes não vão ficar passíveis. O HR-V passou por mudanças de estilo recentemente. Da mesma forma o Renegade, que de quebra teve um reposicionamento de preços e versões, o que o faz liderar o segmento neste início de ano. Em breve, se você digitar “T-Cross” no google, será bombardeado por ofertas vantajosas dos concorrentes. Pode apostar. Além dos quatro líderes, há novidades ascendentes como C4 Cactus e Tiggo 5X, além do Eco sem estepe na tampa.
O preço salgado me parece ser o “calcanhar de aquiles” do T-Cross. A VW é uma marca generalista querendo praticar preço de marca especialista, como a Honda, que assim como a Hyundai tem ótima avaliação de atendimento e pós-venda. A Jeep tem foco total em SUVs. Seu modelo é o único que não deriva de carro de passeio. Só o Renegade tem opção de motor diesel com tração 4x4, que representa 12% do mix de vendas. Seus pecados são o porta-malas acanhado e o motor flex pouco empolgante.
JEEP RENEGADE 2019 (FOTO: DIVULGAÇÃO)
A VW terá de fazer um trabalho especial na rede para elevar o padrão de atendimento dos clientes do T-Cross, que pagarão mais de R$ 90 mil pela versão automática (a que vende). Difícil é manter o foco da força de vendas no modelo, ao mesmo tempo em que se vende Gol, Voyage, Saveiro, Fox, Up... Clientes de veículos acima de R$ 90 mil pesquisam muito, comparam e querem atenção mais que especial das equipes de venda. Honda, Jeep, Nissan e Hyundai são redes mais enxutas, especializadas em modelos de maior valor agregado.
Já a VW nunca se deu muito bem com modelos mais caros como Golf, Jetta, Passat, Tiguan e Amarok. Da mesma forma como outras marcas generalistas (Chevrolet, Ford e Renault), que não conseguem emplacar tantos SUVs como as quatro líderes do segmento.
Já a VW nunca se deu muito bem com modelos mais caros como Golf, Jetta, Passat, Tiguan e Amarok. Da mesma forma como outras marcas generalistas (Chevrolet, Ford e Renault), que não conseguem emplacar tantos SUVs como as quatro líderes do segmento.
De qualquer forma, o tamanho da rede, a capilaridade e os pesados investimentos em treinamento e marketing jogam a favor do VW T-Cross neste momento, além do fator novidade. Por isso, minha opinião é que o novo entrante vai conseguir a liderança, mas não com muita folga. Deve tirar muitos compradores do EcoSport, por conta da imagem ruim da Ford após o fechamento da fábrica no ABC. Deve avançar também sobre os modelos da Renault.
FORD ECOSPORT TITANIUM 2020 SEM ESTEPE NA TAMPA DO PORTA-MALAS (FOTO: TABATHA BENJAMIN / AUTOESPORTE)
Entre os quatro líderes, o Kicks deve sofrer as piores consequências, pois não tem rede tão premium e é o que mais se assemelha ao T-Cross em termos de porte (size impression). O Creta parece mais encorpado, mas também deve perder alguns clientes, mais que HR-V e Renegade, recentemente renovados. Kicks e Creta precisam urgentemente de um facelift e novidades na gama para não sangrarem demais com a chegada do VW T-Cross. Façam suas apostas, pois a briga promete!
OPINIÃO: OS DESAFIOS DA VOLKSWAGEN PARA FAZER O T-CROSS VENDER MAIS QUE OS RIVAIS (FOTO: AUTOESPORTE)
Glauco Lucena escreve neste espaço às terças. Jornalista com 28 anos de experiência no setor automotivo, foi redator-chefe de Autoesporte até 2013 e gerente de imprensa da Jeep. Hoje é consultor automotivo e mantém o site AutoBuzz.
COMENTÁRIOS: Tem um "probleminha" que a VW vai ter para realizar o seu intento, bem além do alto (altíssimo, para mim) preço que cobra no T-Cross: já tem uma quantidade BEM GRANDE de vídeos no YouTube falando dos defeitos, recorrentes, bem como problemas de fabricação (baixa qualidade) de Polo e Virtus. Numa contagem rápida, achei pelos menos uns 30 com títulos variados, mas todos com o mesmo assunto. Primeiro, é uma contra propaganda que tangencia o T-Cross, pois afinal, deriva da mesma plataforma. Segundo, porque considerando os vídeos "per si", demonstram relaxo com o produto, que pode ser mais um na fogueira contra produtos da VW, assim que chegar ao mercado. Ninguém da imprensa especializada está dando a mínima para isso e em algum momento, esta onda vai bater no traseiro da VW.