Seria o design tão importante assim?
24/01/2013
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O mercado nacional é movimentado pelo design, isso é fato. Se o carro tiver um rostinho bonito e uma traseira agradável de olhar, é bem provável que o veículo irá fazer sucesso entre o público mais convencional. Sejamos francos, ninguém gosta de ser visto saindo de um carro que parece ter sido desenhado após tomar algumas garrafas de vinho, a não ser que este carro comece com o nome Alfa Romeo, aí a história é outra.
As maiores vítimas desse descaso com o design ficam sendo os sedans que são originados após uma pequena gambiarra de um hatchback, como o Peugeot 207, Toyota Etios e Nissan Tiida. Outros já são feios por natureza, como o Renault Logan, mas no geral, se o carro é feito para o mercado emergente e não recebeu um tratamento estético ($$), ele está automaticamente fadado às piadinhas e preconceitos.
Mas quando se fala de carro feio, também entra a questão do gosto, pois mesmo em alguns casos dos quais a opinião da maioria defina como “feio”, em outros, isso fica bastante dividido, como é o caso da Ssangyong Actyon Sports e Chrysler PT Cruiser, por exemplo, considerados como aberrações ou obras de arte por muitos.
A questão é: até onde o design importa? Ele é um divisor de águas durante a compra de um carro? Vamos começar com o básico: qual será a utilidade do carro? Se você trabalha com algo que envolva imagem, como um arquiteto de renome ou se você é um empresário bastante visado na sua região, é relativamente importante ser “bem visto” ao entrar em seu carro.
É triste, mas a nossa sociedade exige esses conceitos, podemos ou não aceitá-los na medida do possível. Neste caso, talvez um bom design possa ser primordial perto de um custo mais elevado ou alguns opcionais a menos, tudo vai depender do dono.
Particularmente, eu não ligo para essas coisas. Como eu não trabalho com nada que envolva minha imagem, design é uma das últimas coisas que analiso na hora de julgar um veículo para o dia-a-dia. Meu carro tem um par de faróis de milha com lentes amarelas e a tampa do porta-malas tem um pequeno adesivo com o traçado da pista de testes do programa Top Gear UK, em Dunsfold, Inglaterra.
Quando me perguntam se eu me importo com as pessoas olhando, eu digo que não, afinal, as milhas amarelas ajudam a enxergar em dias de chuva além de destacarem com mais eficiência os buracos, ou seja, pouco ligo se irão gostar ou não. São úteis, fim de papo. Para quem não precisa de um carro que complete o cargo do dono, não há motivos para se preocupar com a opinião alheia. Uma proposta individualista? Sem dúvida, mas ela evita diversas decisões erradas.
O que vejo hoje em dia é uma massiva preocupação com “o que as outras pessoas vão achar”, ou até mesmo “o que eu preciso para ser aceito em tal grupo”. Isso parte não somente dos carros em si, mas também do que as pessoas fazem com seus próprios veículos. Modas, grupos e comunidades são o que mais existem por aí, as pessoas chegam a brigar para ver quem tem o carro mais baixo ou a maior roda, ou seja, o design ainda é um forte elemento até para quem não é um consumidor ativo do mercado automotivo.
Na Europa, principalmente na Inglaterra e Alemanha, existe um preconceito contra carros franceses, no passado isso acontecia com carros suecos. No Japão, o mesmo acontece com os carros da rival Coreia do Sul. Aqui no Brasil existem “bombardeios” de todo lado, há pessoas que preferem andar a pé ao invés de serem vistas em um modelo de marca X ou Y.
Até o momento, percebe-se que a preocupação das pessoas não é somente com o visual em específico, mas, de forma geral, há um senso comum de que tal carro, ou tal marca, irá adicionar algo à personalidade da pessoa. Aquele quadro de que o design é um divisor de águas já começou a se dividir em outros diferentes.
Podemos adicionar outro elemento nessa discussão, que é o próprio marketing de alguns veículos que adicionam “valores” que sequer são questionados pelo consumidor, como os famosos e polêmicos slogans de “Melhor do Mundo” que praticam por aí.
Começamos com o design, passamos pelas atitudes com o carro e terminamos com o status social que eles podem causar, ou seja, é evidente que o “problema” do desenho de um carro é o menor dos impactos na compra de um veículo.
Bons carros que oferecem boas médias de custo/benefício são esmagados quando seu marketing não é específico para “promovê-lo socialmente”, por mais que a montadora gaste dinheiro desenvolvendo um bom produto e divulgando tais qualidades, ele sempre será superado por algo atrativo visualmente e com boa aceitação pré-meditada.
Eu poderia citar exemplos e tentar ilustrar essa discussão, mas acredito que, até o momento, todos já devam ter pensado em um carro/marca que encaixe perfeitamente nessa lógica. Lembra-se daquela pergunta que fiz anteriormente, em relação à importância do design?
Deixarei para vocês, leitores, completarem o raciocínio: será que realmente o desenho do carro é importante ou existem outros fatores que pesam mais no subconsciente do consumidor?
Por Julio Cesar Molchan de Oliveira