[size=30]Carros verdes: O que precisa ser feito no Brasil[/size]
13/06/2016Carros verdes no Brasil ainda são raros. Até agora, a Anfavea estima em 2,5 mil o número de carros híbridos, híbridos plug-in e elétricos vendidos num mercado cuja frota é de 50 milhões de automóveis.
Apesar de ações feitas de forma independente por parte de alguns fabricantes, através de parcerias com iniciativa privada e órgãos públicos, o Brasil ainda vê o carro verde como um veículo caro e raro.
O motivo é que não há incentivos para se criar uma demanda que no futuro possa ser taxada adequadamente. Hoje, o carro elétrico paga 25% de IPI, embora tenha obtido isenção de imposto de importação em 2015, o valor continua sendo proibitivo para muitos consumidores, que partem para carros comuns de preço equivalente.
Hoje, um Toyota Prius custa R$ 119.950, preço que permite adquirir carros de luxo “compactos”, utilitários esportivos bem equipados e até sedãs grandes, entre outros. Apesar da intenção da marca japonesa, que quer ter 30% das vendas em carros verdes até 2020, o panorama brasileiro é totalmente desfavorável. Mesmo com 5,7 milhões vendidos no mundo, o híbrido emplacou apenas 783 exemplares em quatro anos de mercado.
Incentivos fiscais
Montadoras e especialistas são categóricos ao afirmar que o carro elétrico e os demais “verdes” precisam de incentivos fiscais para tornar o preço atraente para o consumidor comum. Sim, aquele que não conhece um carro com emissão zero. Isto porque quem se interessa sabe exatamente o que está comprando e busca uma experiência diferente.
Atualmente, a carga tributária que incide sobre os veículos gira em torno de 55%, de acordo com a Anfavea, o que prejudica não só as vendas de carros comuns, mas especialmente as de carros elétricos e híbridos, onde o peso dos impostos é um pouco maior. A saída para a fomentar um mercado de carros verdes no Brasil é a criação de um plano de incentivos a longo prazo.
Atualmente, com a instabilidade política e a crise econômica, dificilmente o governo abrirá mão de tributos em favor do setor automotivo, ainda mais no caso dos verdes, embora reconheça que esse é o caminho a seguir. Para Anfavea e ABVE (Associação Brasileira dos Veículos Elétricos), não dá para cobrar mais por um segmento que não vende.
Para as duas entidades, o governo deve promover uma redução de preços nos veículos de emissão zero e baixa, através de incentivos fiscais. O IPI é tido como o maior entrave para essa redução, de acordo com as montadoras. Com renúncia fiscal inicialmente, o governo poderá futuramente rever o benefício, quando então o mercado de carros verdes já estiver caminhando com as próprias pernas. Ou seja, em quantidade suficiente para se igualar às demais categorias.
Quando o governo zerou o imposto de importação, que nem é o principal motivo do custo elevado do elétrico no Brasil, de acordo com os fabricantes, o preço do BMW i3, por exemplo, despencou imediatamente de R$ 220 mil para R$ 170 mil.
Há algum tempo, a Nissan chegou a afirmar que o elétrico Leaf poderia ser vendido por R$ 90 mil, mediante isenção de IPI e II. Naquela época, o dólar estava em um patamar menor que o atual, que também é um fator para manter os preços altos. Contra esse, infelizmente, não há o que fazer neste momento.
O exemplo de outros mercados
O modelo de incentivo proposto é o mesmo existente em países desenvolvidos, onde os governos cortaram encargos sobre carros verdes para criação de demanda. Muitos ainda não atingiram suas metas, mas já existem exemplos em que o próprio carro elétrico será o denominador final da equação automotiva nacional. Noruega e Índia já anunciaram a extinção do carro comum em prol do elétrico para os próximos anos, por exemplo.
No Japão, já existem mais pontos de recarga do que postos de combustíveis e sua frota verde é a segunda do mundo, ficando atrás apenas dos EUA, que tem o triplo da população. A China também corre nesse sentido, criando benefícios fiscais atraentes para substituir parte da frota por elétricos e híbridos. Sua corrida é contra o tempo, por conta da grande poluição ambiental.
De volta ao Brasil, além de incentivos iniciais para redução de preço, que deverão ser atrelados à produção nacional e criação de um parque industrial que atenda essa demanda, alvos prioritários do Inovar-Auto, os elétricos também precisarão de infraestrutura para recarga de baterias em pontos estratégicos, tais como estacionamentos, aeroportos, shoppings, entre outros.
A expectativa da ABVE é que entre 30 mil e 40 mil verdes serão emplacados por ano em 2020 e apoio a essa frota é necessário. Ainda assim, os tributos continuarão pesando forte sobre os carros verdes. A prefeitura de São Paulo, por exemplo, abriu mão de sua parte (50%) no IPVA de carros desse segmento. O efeito agora ainda é pequeno, servindo mais como um estímulo ao debate sobre o tema. No entanto, já é um começo.
Isenção de rodízio, zona azul gratuita, vagas exclusivas em estacionamentos, entre outras ações realizadas em esfera municipal e estadual, servem também como estímulo ao uso do carro elétrico. Em alguns estados brasileiros, há isenção total ou parcial de IPVA para carros plugados. De acordo com especialistas, se o Brasil não fizer algo agora, ficará para trás em relação ao restante do mundo.
[Fonte: Exame]
Agradecimentos ao Diogo Muniz.