A Era Nader: vez do consumidor começou há 50 anos
Advogado deu base à grande mudança nas relações de consumo nos EUA a partir de exigências de segurança
Nenhum previsor do futuro intuiu a mudança das relações de consumo baseada no determinismo de apenas um homem, o norte-americano Ralph Nader, 81. Sempre advogado dos consumidores, deu base à grande mudança nas relações de consumo a partir de exigências de segurança. Se seu carro tem cintos, suspensões seguras, bolsas infláveis, freios com sistema antitravamento (ABS) e outros itens de segurança, agradeça ao Nader.
Postura de cidadão, sua primeira ação questionava sua Harvard School of Law do porquê de uso do inseticida DDD em suas árvores. Seu trabalho evoluiu, expandiu-se, deu frutos em ramos diferentes como mudanças em veículos, tratamento de água, carnes, pesticidas. As ações de Nader permearam mundo afora. No tema da Coluna, comparados os níveis de segurança dos veículos do final dos anos 60 e os atuais, incluindo os brasileiros, é de se reverenciar o filho de libaneses e sua vida dedicada à cidadania.
ReversoCuriosamente, quem construiu o pedestal para a fama foi a poderosa General Motors. Era dela o
Chevrolet Corvair, ponto de vista da marca para combater o Fusca nos Estados Unidos. Nader fez artigo no jornal de Harvard mostrando a insegurança do Corvair por sua suspensão traseira — de semieixos oscilantes, como no Fusca —, ao fazer o semieixo mudar o ângulo de contato da roda com o chão por buracos, inclinação das curvas, freadas fortes. Comportamento fazia perder estabilidade, com risco de capotamento, danos materiais, ferimentos, mortes.
Um editor propôs-lhe escrever um livro —
Unsafe at Any Speed, algo como inseguro em qualquer velocidade — e a GM, embotada por magnitude, embriagada por empáfia, mostrou como as grandes corporações não sabem tratar de crises e surpresas externas. Em vez de corrigir o produto, mandou investigar a vida privada de Nader, violência inimaginada nos conceitos de liberdade individual nos EUA. A divulgação do mal feito transformou o desconhecido Nader em sucesso, e seu livro em best-seller não-ficção, superando Truman Capote e seu
A Sangue Frio.
Respeitasse o oponente, analisasse seu perfil de filho de imigrantes da frutífera Zahle, no vale do rio Bekah, Líbano, saberia, mais honesto, mais barato, menos danoso, corrigir a característica do Corvair — como fez no ano seguinte, quando a imagem do carro estava borrada. Desprezou o denodo dos imigrantes bem sucedidos: seu pai fugira da diáspora que matara mais de um milhão de pessoas e espalhara armênios, turcos, sírios e libaneses mundo afora. Trabalhara na Maxwell, fábrica de automóveis depois Chrysler, juntara dinheiro, fora ao Líbano, casara-se com a professora Rose e voltando aos EUA montou o básico dos imigrantes: café/restaurante/empório.
Ali se debatiam temas de cidadania, influenciando a carreira do autor, focada, cheia de graus, laudas universitárias e o diploma de Harvard, sempre grande aval de qualidade individual.
A indução pela GM transformou-o em formador de advogados do contribuinte e, no setor, fez criar a National Highway Safety Administration, agência de segurança veicular dos EUA, e de similares e regulamentos mundo afora. No varejo, freios melhores e direções colapsíveis, frentes e grades frontais mais limpas e adornos não agressivos, como estrela da Mercedes e estatueta da Rolls com molas para permitir flexão — Jaguar não conseguiu e suprimiu o felino do capô de seus produtos.
Nader processou a GM. Ganhou, à época, num acordo, US$ 425 mil — valor de 200 Chevrolets Corvair Monza, o mais caro da lista — e não mudou de vida, aplicando-os no projeto de difundir cidadania. James Roche, presidente da GM, então a maior do mundo, foi renunciado. Uma das consequências de seu trabalho é a redução de mortes no trânsito. Pela regra norte-americana de mortes por 100 mil milhas (160 mil km) rodadas, o número de 1964 era 5. Em 2014, caiu para 1.
No âmbito das curiosidades, países árabes não produzem veículos — exceto Turquia —, mas dois descendentes traçam a linha de mudança de desenho e projeto dos veículos. Antes de Nader, outro de nome parecido, o egípcio coronel Gamal Abdel Nasser, ao bloquear o Canal de Suez no inverno europeu de 1957, fez mudar a morfologia em nome da redução de consumo. Nader evoluiu no tema: instrumentou a defesa do consumidor, em todas as áreas.
Roda a Roda
Land Rover – Encerrando neste ano a produção do jipe Defender, evolução do mítico produto com a imagem de Land Rover, empresa resolveu reeditá-lo. Encomendou estudos e tem três pontos já definidos: voltará em 2019; com cinco versões; nos EUA, onde o Defender não era vendido desde 1997. Pretensiosa, quer vender 100 mil unidades/ano. Neste venderá 10 mil…
Argentinidad – Colecionadores argentinos de automóveis antigos fizeram carreata Auto Presidencial Argentino, partir de Luján, cidade histórica, berço da resistência ao invasor inglês. Abriu-a com Ramblers Ambassador (foto), sedãs então lá produzidos e anteriormente destinados ao transporte presidencial.
Razão – Fundo nacionalista: querem que Mauricio Macri, recém-empossado na Presidência da República, abra mão dos importados Audi e use carro argentino.
Opções – No vizinho país se produzem alguns exemplares com plataformas B: Citroën C4, Peugeot 408, Ford Focus — mais votado em pesquisa —, Renault Fluence. Correndo por fora, Toyota Hilux SW4, Mercedes Vito. Macri é do ramo, tendo dirigido a Sevel, montadora de Peugeots e Chevrolets.
Situação – Lembra um dos meus editores, o atento Fábio Amorim, de Alagoas: “A Pátria está metida no gosto da cobiça e da rudeza, de uma austera, apagada e vil tristeza” – Luis de Camões.
2 – Não sei quem ganhará o embate que se trava entre o Executivo e o Legislativo, com o Judiciário se contorcendo. Sei quem perderá com a simples mudança de seis por meia dúzia, de PT por seu aliado PMDB: Nós. Teremos perdido a oportunidade de recomeçar o país.
Gasolina –
Wall Street Journal previu despencada no preço da gasolina. Hoje, na média norte-americana, US$ 2,02 por galão (3,785 litros), a grosso modo em torno de R$ 2 por litro. Previsão é queda pela metade.
Aqui – Nossa gasolina é calculada como se fosse comprada aos árabes, desprezando custos locais, como não fôssemos produtores. Espera-se a manutenção do critério com baixa de preço ao consumidor.
Dieselgate – Segundo fonte,
holding Volkswagen pode vender algumas de suas 12 marcas diferentes para fazer caixa às demandas dos negócios e das
confusões das emissões poluentes. Na relação citam a MAN, de caminhões. Caso nacional inclui a VW de caminhões e ônibus, e automóveis especiais.
E? – Diretor da filial local da MAN não acredita na possibilidade, ante a recente ajustada legal da área de transportes MAN, VWCO e Scania. Mas não descarta a possibilidade de a MAN Diesel Turbo, especializada em grandes motores — para geradores monumentais, navios, etc., não atuante no Brasil — ser opção.
Mais – Caminho de transferir marcas de prestígio parece ínvio, de pouca liquidez vender a Bugatti, e caro fazê-lo com a Lamborghini, agora em projeto de duplicar a produção. Ambos negócios a compradores muito personalistas.
Série – Fiat apresenta
edição especial do Uno e Palio Sporting: Blue Edition. Retoques externos e internos, rodas, detalhes azuis em faixas, parte da grade, iluminação do painel, costura no couro do volante, maçanetas internas, e mais amplo leque de itens. Cores externas em branco, prata e preto. Cálculo entre agregação dos itens e preço dá vantagem média de 27,5%. Uno a R$ 46.550 e Palio por R$ 55.140.
Personalização –
Môpar, como pronunciam, área de equipamentos da Fiat Chrysler Jeep, lançou programa especial: cliente escolhe acessórios para seu veículo novo e tal agregação é feita na fábrica. É uma garantia total de serviço e qualidade, diz Norberto Klein, diretor da área.
Goiana – Vale para os FCA feitos na nova fábrica no norte pernambucano, como os Jeeps Renegade, sucesso em vendas, e as picapes Toro, em produção, mas com vendas em fevereiro. Depois, Betim, MG. Nos EUA opera em nove fábricas à média mensal de 20 mil unidades.
Leilão – Marco nos leilões de veículos antigos nos EUA, o Arizona Auction Week, em Scottsdale, uma semana de correr do martelo e mais de 1.000 unidades vendidas, inicia informar veículos à venda.
Muitos – Ilhas de Porsches em modelos raros, tipo 356 Carrera 2 GS Coupé, BMW 3.0 CSI, Mercedes 300 SL Roadster, Alfas, Lamborghinis, Ferraris, Maserati, e o ex-patinho feio, o Fiat Otto Vu (8V) em rara carroceria Zagato Elaborata, uma entre cinco unidades produzidas.
Mito – O Otto Vu (foto) era mágico em formulação, construção quase artesanal por um braço da Fiat, carrocerias por vários fornecedores, motor primoroso — V8, 2,0 litros e à época valorosos 127 cv. Era brutalmente estável e fazia viagens a 200 km/h, coisa pouco imaginável ao início dos anos 50. Quase veio para o Brasil. Acabou com 114 unidades construídas. Era muito avançado para a época. Desprezado, agora reapareceu como raridade a ser preservada.
Síntese – Corre solta a capacidade de rotular veículos e criar classificações. Mais recentes, Subaru chama o
Outback de
Crossuv, mistura de
crossover com SUV. Renault ao apresentar a picape Oroch disse ter criado nova classe, a Sport Utility Pick-up. Fiat, preparando lançamento da picape Toro, nestes dias repetiu a classificação, requerendo criação de tal rótulo.
Evolução – Fila anda e São Paulo terá área expositiva à altura. O São Paulo Expo, o antigo Espaço Imigrantes, reformado. Boa notícia, tem ar-condicionado! Dois pavilhões, 90 mil m² de área, centro de convenções com 10 mil m², 4.500 vagas cobertas. Maior novidade do Salão do Automóvel 2016 será falta de suor.
Gente – Arturo Piñero, 49, executivo, transferência. Da presidência da BMW no Brasil para a filial de varejo da marca nos EUA. É um dos CEO deixando o negócio, como a Coluna anunciou edição passada. Helder Boavida, português, 50, presidente da BMW México, no lugar. Fevereiro. Dr. Boavida vem com primeiro desafio: retomar a posição perdida pela BMW. Era líder de mercado, fez fábrica, caiu para terceira. Terá que esquecer o sobrenome e trabalhar muito. / Terry Hill, 54, inglês, presidente da operação latino-americana da Jaguar Land Rover, mudança. Deixa a companhia onde está há 30 anos e tocará novo negócio na China. / Marcondes Viana, 69, jornalista, festa: 50 anos de coluna de automóveis — e outras. Sua revista
Chic, em primeira década, comemorará o feito. / Francisco Javier Garcia-Sanz, espanhol, 58, diretor na matriz VW, desafio. Supervisor do Dieselgate, a questão da hiper emissão de poluentes pelos motores diesel da marca.
Dando exemplo, a Cooperárvore da Fiat
Quando Iracema Salgado, presidente da Cooperárvore, cooperativa de moda sustentável, parte do programa social Árvore da Vida — desenvolvido pela Fiat Chrysler Automobiles (FCA) em Betim, MG —, recebeu o prêmio Mulheres Notáveis, como empreendedorismo social, pelo Conselho da Mulher Empreendedora da Associação Comercial e Empresarial de Minas, eventuais e remotas dúvidas sobre a efetividade do programa se dissiparam.
A Cooperárvore surgiu em decorrência do trabalho de investimento nos residentes no Jardim Teresópolis, bairro de baixa renda e altos problemas surgido em frente à imponente fábrica. Em 2004 Marco Antônio Lage, diretor corporativo da Fiat, resolveu concentrar os projetos sociais em algo com princípio, meio e fim. E que não se resumisse a ajudar pontual e fugazmente, mas apoio, referência, corrigir o curso, oferecer perspectivas de futuro, convivência familiar, em especial motivando os jovens a trabalho, tirando-os do risco de vender o breve futuro ao tráfico de drogas.
Projeto vencedor ao ter influenciado mais de 20 mil pessoas, viu na formação da cooperativa forma de associar as residentes em torno de trabalho e renda com moda, a partir de aparas de cintos de segurança e tecidos automotivos.
Premiada Iracema Pereira Costa Salgado é exemplo vivo. Foi aluna de corte e costura da primeira turma do programa Árvore da Vida, em 2004. Dois anos depois participou da formação da Cooperárvore, e em 2007 retomou um curso supletivo, e fez outros: relações humanas, cooperativismo, informática, empreendedorismo, oferecidos em parceria com o Sebrae. Em seu desenvolvimento em 2011 foi uma das cooperadas escolhidas a ir e expor os produtos da Cooperárvore no encontro para amizade entre os povos, em Rimini, Itália. Seu exemplo foi fundamental para a formação de seus três filhos, participando de oficinas, cursos e aprendizagem industrial. Interessantemente, apesar da breve existência, o Árvore da Vida atinge a segunda geração.
Nova linha de acessórios de moda e decoração, a Vista-se de Flores, é feita artesanalmente por pessoas da comunidade do Jardim Teresópolis. Em sua existência já vender 233 mil peças, como bolsas, malas, mochilas, almofadas, bandejas de pipoca, entre outros, e preços de R$ 8 a R$ 95. Comprar? www.cooperarvore.com.br e telefone (31) 3591-5896.