“O PRÓXIMO SERÁ NOSSO MELHOR SALÃO DO AUTOMÓVEL”
11/05/2016 12h38- atualizado às 12h38 em 11/05/2016
O engenheiro Antonio Megale, 59 anos, assumiu a presidência da Anfavea – a associação das montadoras – em 25 de abril, em meio a um dos momentos mais delicados da indústria automobilística no Brasil. Falou com Autoesporte poucos dias depois, após uma reunião de diretoria. "Não creio em recuperação vertiginosa, mas bastante robusta assim que as questões macroeconômicas forem ajustadas", afirma Megale, que foi presidente da AEA (associação de engenheiros), passou por várias montadoras, como Ford, Chrysler e Renault, e hoje é diretor de Assuntos Governamentais da Volkswagen.
Outro assunto no horizonte do executivo é o Salão do Automóvel, que acontece em novembro e poderá (ou não) dar um tom mais animador para o mercado. "Será um momento em que talvez a gente já esteja em uma situação mais otimista, acho que será uma grande vitrine para mostrar o que vem por aí. Tenho certeza de que muitas montadoras guardam surpresas para o Salão", afirma. Confira a entrevista.
Como será a divisão de tempo com sua nova responsabilidade?
Estou me ajustando. Já participava aqui da Anfavea como vice-presidente, mas a agenda era muito menor. O que estou procurando é conciliar uma agenda 60% Anfavea e 40% Volkswagen. Tenho uma equipe lá, e com apoio dela e da presidência da VW a gente programou uma rotina mais eficente. Primeira semana foi bem diversificada, com vários contatos, novidades, viagens, agendas com o governo, apresentação de programa com a presidente Dilma, Agrishow, universidade. Sabemos que quando as coisas do ponto de vista econômico e político ficarem mais claras, o mercado deve começar a retomar.
Transição de gestão na Anfavea tem chapa única, em que tradicionalmente o vice assume. O que muda de fato na defesa dos interesses do setor?
Parece, mas não é tão tranquilo assim.Tive a felicidade de trabalhar na gestão anterior como vice-presidente do (Luiz) Moan, que teve um cuidado excepcional para que a transição fosse tranquila. Diria que estamos em uma linha de continuidade; a gestão anterior implementou uma série de coisas muitas boas, principalmente algo que faltava no setor, uma visão ampla da cadeia, de pegar todos os entes, desde a fabricação de peças, passando por distribuição de veículos, venda de usados, consórcio.
O que se pode fazer em um momento como esse, só aguardar o desenrolar do quadro político e econômico?
Há áreas mais operacionais do governo (federal) que não serão eventualmente substituídas. Nem devem ser. E é bom que não sejam, pois há uma série de trabalhos que vêm sendo feitos do setor com o governo que precisam ter continuidade. Por exemplo, discussões sobre acordos comercias com outros países, melhorias na facilitação do comércio exterior, regulamentações em fase de execução referentes ao Inovar ou programas similares. Não podemos ficar esperando que haja mudança no cenário político para voltar a conversar.
No fim do ano a gente começa a ver os sinais de recuperação e no ano que vem acelera de forma mais vigorosa
Antonio Megale
A Anfavea tem plano para reaquecer o mercado ou depende só da confiança do consumidor?
Temos de ser otimistas, apostar só em clima de situação complicada é muito ruim. Tenho para mim que no fim do ano a gente começa a ver os sinais de recuperação e no ano que vem acelera de forma mais vigorosa. Não houve falta de desejo da compra de automóvel por parte da população. Houve adiamento, as pessoas estão sendo prudentes, basicamente uma crise de confiança. Não creio em recuperação vertiginosa, mas bastante robusta assim que as questões macroeconômicas forem ajustadas.
As exportações têm tido bom volume. O que o senhor pode comentar sobre isso?
É preciso oferecer condições adequadas, o que passa por abertura de mercado, um dos fatores fundamentais. Há países com os quais não temos uma relação comercial no setor automotivo. O governo também entende que essa é uma boa agenda, pois também quer melhorar sua balança comercial. Houve avanço importante nas negociações com a Colômbia, Uruguai, Peru, e há outros mercados onde podemos avançar. O governo também está trabalhando, e temos participado, na facilitação do comércio, melhorar o fluxo, reduzir a burocracia.Tem de melhorar muito a logística do pais, a operação dos portos, manutenção adequada e abertura de novas estradas, novos modais de transporte.
A Argentina falou em rever o acordo entre os países. Como vê isso?
Há uma complementariedade entre os dois países quanto a produção e mercado. Devemos ter acordos de longo prazo para evitar todo ano ter de renegociar, mirar o livre comércio, tirar ar barreiras de restrição do comércio entre os países. Vamos acompanhar as negociações; os governos estão conversando, e envolve outros setores além da indústria automobilística. Mas é importantíssimo que o fluxo de comércio seja mantido.
Um acordo de comércio entre Brasil e União Europeia ainda é um sonho?
Faz muito anos que estamos batalhando para isso. A posição da Anfavea é favorável ao acordo com a União Europeia no setor automotivo, com prazo suficiente para que se possa recuperar o nível adequado para competir bem naquele mercado. Que lá na ponta chegue a um livre comércio, com as devidas salvaguardas. Acho que a Europa tem um pouco de medo do Brasil quanto aos produtos agrícolas; da mesma forma que temos algumas preocupações, eles também têm. Há uma promessa de troca de ofertas ainda neste ano, envolvendo alguns produtos, e teremos o primeiro sinal se realmente esse acordo pode evoluir a bom termo.
Hoje que os consumidores estão informados não é ruim para a imagem da indústria negociar prazos mais longos para recursos de segurança – como o controle de estabilidade?
Esse é um ponto extremamente importante. Nosso setor vive em ciclos de produtos e desenvolvimento. Não se pode mudar a regra no meio do jogo. Aprova-se um programa baseado na legislação vigente. Se troca a legislação no meio pode ter de rever o projeto, o que pode trazer consequências não previstas. Apoiamos a previsibilidade; podemos fazer tudo, desde que planejado e que as empresas entendam como serão as regras. O exemplo do airbag e ABS acho que foi muito positivo: houve uma discussão, um cronograma, e todos os veículos hoje no país são equipados.
Isso não aumentaria a competitividade do carro brasileiro no mercado europeu, por exemplo?
Se uma empresa daqui quiser que seu veículo participe de um processo de exportação, terá de se adequar às regras. Acho que nos preocupamos pouco com essa questão da previsibilidade, a inconstância nos atrapalha na aprovação de investimentos. Temos batalhado muito pelo estabelecimento de regras de médio e longo prazos.
BMW X1 fabricado no Brasil (Foto: Divulgação)
Ainda há espaço para novas montadoras no país?
Quando se fala em investimento não é só em capacidade, que está em um momento OK, estamos com a capacidade de cinco milhões, primeiro é preciso diminuir a ociosidade. Em investimento em produto, modernização e novas tecnologias, para isso vejo espaço sim. A movimentação entre as marcas se dá sob o ponto de vista de escolher o produto adequado às necessidade do consumidor brasileiro. Quando a situação começar a melhorar, todas as empresas vão acelerar seus investimentos a fim de atender as demandas.Temos hoje 85% das montadoras instaladas no Brasil, as maiores já estão aqui, então não vejo nenhuma grande movimentação nesse sentido.
Sua visão parece mais otimista quanto à redução de investimentos por conta dessa desaceleração.
Sim, mesmo porque se se observar a dança de cadeiras na participação de mercado ela está muito ligada ao lançamento de produtos. As empresas vivem do desenvolvimento de novos produtos, inovadores, para atender as demandas dos clientes. Chegamos a um nível de competição entre as empresas muito grande, e só vão se manter em destaque as empresas que tiverem a capacidade de entender o desejo do cliente, conseguir antecipar isso e lançar produtos no seu gosto o mais rápido possível. A empresa que não fizer esse investimento vai ficar gradualmente para trás, e aí sim compromete seu futuro.
O fato de o Brasil ter um carro para cada cinco habitantes é um estímulo para a indústria?
O setor não vive de curto prazo, os investimentos têm um prazo de maturação maior. Para chegar ao nível de Argentina ou México, temos de colocar de 20 milhões a 25 milhões de carros nas ruas, tem chão para isso. Um fator positivo: há uma tendência de avançar para a interiorização. As grandes cidades estão com um nível de carros muito alto – São Paulo tem dois para cada habitante, equivalente a um país europeu -, mas se olhar para o interior tem muito a avançar. É um dos indicadores que as empresas levam em conta, e são poucos países no mundo que podem oferecer as condições que o Brasil oferece.
Como será o Salão neste ano difícil?
Tenho certeza de que será o melhor Salão do Automóvel que já tivemos. Demos um salto de qualidade em instalações e infraestrutura. Será um momento em que talvez a gente já esteja em uma situação mais otimista, acho que será uma grande vitrine para mostrar o que vem por aí. Tenho certeza de que muitas montadoras guardam surpresas para o Salão, lembrando que poucos momentos durante o ano se consegue uma visibilidade tão grande para o setor. Num lugar novo, climatizado, com estacionamento como deve ser, vai surpreender muita gente. O Salão do Brasil já é um dos grandes em termos de importância mundial, e vamos dar um salto entre os salões internacionais. Haverá muitas inovações para o conforto do visitante, conectividade, uso da internet vai ajudar muito.
O Inovar-Auto expira em dezembro de 2017. Houve ganhos relevantes em redução de consumo, por exemplo. O que se pode esperar agora?
O Inovar foi complexo, mas muito positivo. Destaco dois vetores que devem ser preservados. Primeiro são as metas de eficiência energética. Factíveis, elas trouxeram evolução tecnológica extraordinária com grande benefício para o cliente. E para o país houve avanço em pesquisa, desenvolvimento e engenharia. O programa criou esse incentivo muito bem colocado que permitiu melhor aproveitamento dos centros de engenharia existentes, e que outras montassem os seus. Sem capacidade de geração de tecnologia e inovação, estaremos comprometendo a indústria no país. Acho que o governo também avalia os resultados positivamente. O Inovar vai deixar veículos muito superiores em eficiência energética e tecnologia.
O senhor pode mencionar outras ações da Anfavea?
Como associação, apoiamos movimentos de segurança veicular como o Maio Amarelo. Essa preocupação ampla com a segurança é importante. E quando falamos nesse assunto, passa por várias frentes, e o carro é uma delas, além do condutor, sua formação, educação no trânsito, infraestrutura de qualidade, estradas e ruas bem pavimentadas e sinalizadas.
Outra questão importantíssima é o entendimento da mobilidade, da evolução dessa questão à diferença de comportamento do consumidor. Como podemos oferecer essa mobilidade, integrar os modais, em última análise oferecer uma qualidade de vidar melhor para as pessoas. O setor tem essa visão social, e vamos procurar ir um pouco mais fundo nisso nos próximos anos.
Isso implica uma interação com a administração pública.
Com certeza, é o entendimento de nosso papel no cotidiano. Não se pode esquecer que também representamos os ônibus, e como vamos oferecer essa combinação entre os modais de forma mais eficiente é um dos temas de discussão aqui na associação. Falamos de mobilidade de forma ampla, mas tem também a conectividade, como o carro pode falar com os sistemas, oferecer alternativas de caminho melhor. É uma visão bem ampla.
Em entrevista, novo presidente da associação de fabricantes, Antonio Megale, revela otimismo na recuperação da indústria nacional
por MARCUS VINICIUS GASQUES11/05/2016 12h38- atualizado às 12h38 em 11/05/2016
O engenheiro Antonio Megale, 59 anos, assumiu a presidência da Anfavea – a associação das montadoras – em 25 de abril, em meio a um dos momentos mais delicados da indústria automobilística no Brasil. Falou com Autoesporte poucos dias depois, após uma reunião de diretoria. "Não creio em recuperação vertiginosa, mas bastante robusta assim que as questões macroeconômicas forem ajustadas", afirma Megale, que foi presidente da AEA (associação de engenheiros), passou por várias montadoras, como Ford, Chrysler e Renault, e hoje é diretor de Assuntos Governamentais da Volkswagen.
Outro assunto no horizonte do executivo é o Salão do Automóvel, que acontece em novembro e poderá (ou não) dar um tom mais animador para o mercado. "Será um momento em que talvez a gente já esteja em uma situação mais otimista, acho que será uma grande vitrine para mostrar o que vem por aí. Tenho certeza de que muitas montadoras guardam surpresas para o Salão", afirma. Confira a entrevista.
Como será a divisão de tempo com sua nova responsabilidade?
Estou me ajustando. Já participava aqui da Anfavea como vice-presidente, mas a agenda era muito menor. O que estou procurando é conciliar uma agenda 60% Anfavea e 40% Volkswagen. Tenho uma equipe lá, e com apoio dela e da presidência da VW a gente programou uma rotina mais eficente. Primeira semana foi bem diversificada, com vários contatos, novidades, viagens, agendas com o governo, apresentação de programa com a presidente Dilma, Agrishow, universidade. Sabemos que quando as coisas do ponto de vista econômico e político ficarem mais claras, o mercado deve começar a retomar.
Transição de gestão na Anfavea tem chapa única, em que tradicionalmente o vice assume. O que muda de fato na defesa dos interesses do setor?
Parece, mas não é tão tranquilo assim.Tive a felicidade de trabalhar na gestão anterior como vice-presidente do (Luiz) Moan, que teve um cuidado excepcional para que a transição fosse tranquila. Diria que estamos em uma linha de continuidade; a gestão anterior implementou uma série de coisas muitas boas, principalmente algo que faltava no setor, uma visão ampla da cadeia, de pegar todos os entes, desde a fabricação de peças, passando por distribuição de veículos, venda de usados, consórcio.
O que se pode fazer em um momento como esse, só aguardar o desenrolar do quadro político e econômico?
Há áreas mais operacionais do governo (federal) que não serão eventualmente substituídas. Nem devem ser. E é bom que não sejam, pois há uma série de trabalhos que vêm sendo feitos do setor com o governo que precisam ter continuidade. Por exemplo, discussões sobre acordos comercias com outros países, melhorias na facilitação do comércio exterior, regulamentações em fase de execução referentes ao Inovar ou programas similares. Não podemos ficar esperando que haja mudança no cenário político para voltar a conversar.
No fim do ano a gente começa a ver os sinais de recuperação e no ano que vem acelera de forma mais vigorosa
Antonio Megale
A Anfavea tem plano para reaquecer o mercado ou depende só da confiança do consumidor?
Temos de ser otimistas, apostar só em clima de situação complicada é muito ruim. Tenho para mim que no fim do ano a gente começa a ver os sinais de recuperação e no ano que vem acelera de forma mais vigorosa. Não houve falta de desejo da compra de automóvel por parte da população. Houve adiamento, as pessoas estão sendo prudentes, basicamente uma crise de confiança. Não creio em recuperação vertiginosa, mas bastante robusta assim que as questões macroeconômicas forem ajustadas.
As exportações têm tido bom volume. O que o senhor pode comentar sobre isso?
É preciso oferecer condições adequadas, o que passa por abertura de mercado, um dos fatores fundamentais. Há países com os quais não temos uma relação comercial no setor automotivo. O governo também entende que essa é uma boa agenda, pois também quer melhorar sua balança comercial. Houve avanço importante nas negociações com a Colômbia, Uruguai, Peru, e há outros mercados onde podemos avançar. O governo também está trabalhando, e temos participado, na facilitação do comércio, melhorar o fluxo, reduzir a burocracia.Tem de melhorar muito a logística do pais, a operação dos portos, manutenção adequada e abertura de novas estradas, novos modais de transporte.
A Argentina falou em rever o acordo entre os países. Como vê isso?
Há uma complementariedade entre os dois países quanto a produção e mercado. Devemos ter acordos de longo prazo para evitar todo ano ter de renegociar, mirar o livre comércio, tirar ar barreiras de restrição do comércio entre os países. Vamos acompanhar as negociações; os governos estão conversando, e envolve outros setores além da indústria automobilística. Mas é importantíssimo que o fluxo de comércio seja mantido.
Um acordo de comércio entre Brasil e União Europeia ainda é um sonho?
Faz muito anos que estamos batalhando para isso. A posição da Anfavea é favorável ao acordo com a União Europeia no setor automotivo, com prazo suficiente para que se possa recuperar o nível adequado para competir bem naquele mercado. Que lá na ponta chegue a um livre comércio, com as devidas salvaguardas. Acho que a Europa tem um pouco de medo do Brasil quanto aos produtos agrícolas; da mesma forma que temos algumas preocupações, eles também têm. Há uma promessa de troca de ofertas ainda neste ano, envolvendo alguns produtos, e teremos o primeiro sinal se realmente esse acordo pode evoluir a bom termo.
Hoje que os consumidores estão informados não é ruim para a imagem da indústria negociar prazos mais longos para recursos de segurança – como o controle de estabilidade?
Esse é um ponto extremamente importante. Nosso setor vive em ciclos de produtos e desenvolvimento. Não se pode mudar a regra no meio do jogo. Aprova-se um programa baseado na legislação vigente. Se troca a legislação no meio pode ter de rever o projeto, o que pode trazer consequências não previstas. Apoiamos a previsibilidade; podemos fazer tudo, desde que planejado e que as empresas entendam como serão as regras. O exemplo do airbag e ABS acho que foi muito positivo: houve uma discussão, um cronograma, e todos os veículos hoje no país são equipados.
Isso não aumentaria a competitividade do carro brasileiro no mercado europeu, por exemplo?
Se uma empresa daqui quiser que seu veículo participe de um processo de exportação, terá de se adequar às regras. Acho que nos preocupamos pouco com essa questão da previsibilidade, a inconstância nos atrapalha na aprovação de investimentos. Temos batalhado muito pelo estabelecimento de regras de médio e longo prazos.
BMW X1 fabricado no Brasil (Foto: Divulgação)
Ainda há espaço para novas montadoras no país?
Quando se fala em investimento não é só em capacidade, que está em um momento OK, estamos com a capacidade de cinco milhões, primeiro é preciso diminuir a ociosidade. Em investimento em produto, modernização e novas tecnologias, para isso vejo espaço sim. A movimentação entre as marcas se dá sob o ponto de vista de escolher o produto adequado às necessidade do consumidor brasileiro. Quando a situação começar a melhorar, todas as empresas vão acelerar seus investimentos a fim de atender as demandas.Temos hoje 85% das montadoras instaladas no Brasil, as maiores já estão aqui, então não vejo nenhuma grande movimentação nesse sentido.
Sua visão parece mais otimista quanto à redução de investimentos por conta dessa desaceleração.
Sim, mesmo porque se se observar a dança de cadeiras na participação de mercado ela está muito ligada ao lançamento de produtos. As empresas vivem do desenvolvimento de novos produtos, inovadores, para atender as demandas dos clientes. Chegamos a um nível de competição entre as empresas muito grande, e só vão se manter em destaque as empresas que tiverem a capacidade de entender o desejo do cliente, conseguir antecipar isso e lançar produtos no seu gosto o mais rápido possível. A empresa que não fizer esse investimento vai ficar gradualmente para trás, e aí sim compromete seu futuro.
O fato de o Brasil ter um carro para cada cinco habitantes é um estímulo para a indústria?
O setor não vive de curto prazo, os investimentos têm um prazo de maturação maior. Para chegar ao nível de Argentina ou México, temos de colocar de 20 milhões a 25 milhões de carros nas ruas, tem chão para isso. Um fator positivo: há uma tendência de avançar para a interiorização. As grandes cidades estão com um nível de carros muito alto – São Paulo tem dois para cada habitante, equivalente a um país europeu -, mas se olhar para o interior tem muito a avançar. É um dos indicadores que as empresas levam em conta, e são poucos países no mundo que podem oferecer as condições que o Brasil oferece.
Como será o Salão neste ano difícil?
Tenho certeza de que será o melhor Salão do Automóvel que já tivemos. Demos um salto de qualidade em instalações e infraestrutura. Será um momento em que talvez a gente já esteja em uma situação mais otimista, acho que será uma grande vitrine para mostrar o que vem por aí. Tenho certeza de que muitas montadoras guardam surpresas para o Salão, lembrando que poucos momentos durante o ano se consegue uma visibilidade tão grande para o setor. Num lugar novo, climatizado, com estacionamento como deve ser, vai surpreender muita gente. O Salão do Brasil já é um dos grandes em termos de importância mundial, e vamos dar um salto entre os salões internacionais. Haverá muitas inovações para o conforto do visitante, conectividade, uso da internet vai ajudar muito.
O Inovar-Auto expira em dezembro de 2017. Houve ganhos relevantes em redução de consumo, por exemplo. O que se pode esperar agora?
O Inovar foi complexo, mas muito positivo. Destaco dois vetores que devem ser preservados. Primeiro são as metas de eficiência energética. Factíveis, elas trouxeram evolução tecnológica extraordinária com grande benefício para o cliente. E para o país houve avanço em pesquisa, desenvolvimento e engenharia. O programa criou esse incentivo muito bem colocado que permitiu melhor aproveitamento dos centros de engenharia existentes, e que outras montassem os seus. Sem capacidade de geração de tecnologia e inovação, estaremos comprometendo a indústria no país. Acho que o governo também avalia os resultados positivamente. O Inovar vai deixar veículos muito superiores em eficiência energética e tecnologia.
O senhor pode mencionar outras ações da Anfavea?
Como associação, apoiamos movimentos de segurança veicular como o Maio Amarelo. Essa preocupação ampla com a segurança é importante. E quando falamos nesse assunto, passa por várias frentes, e o carro é uma delas, além do condutor, sua formação, educação no trânsito, infraestrutura de qualidade, estradas e ruas bem pavimentadas e sinalizadas.
Outra questão importantíssima é o entendimento da mobilidade, da evolução dessa questão à diferença de comportamento do consumidor. Como podemos oferecer essa mobilidade, integrar os modais, em última análise oferecer uma qualidade de vidar melhor para as pessoas. O setor tem essa visão social, e vamos procurar ir um pouco mais fundo nisso nos próximos anos.
Isso implica uma interação com a administração pública.
Com certeza, é o entendimento de nosso papel no cotidiano. Não se pode esquecer que também representamos os ônibus, e como vamos oferecer essa combinação entre os modais de forma mais eficiente é um dos temas de discussão aqui na associação. Falamos de mobilidade de forma ampla, mas tem também a conectividade, como o carro pode falar com os sistemas, oferecer alternativas de caminho melhor. É uma visão bem ampla.