Fiat 500 estreia o primeiro MultiAir flexível no mundo
Uso de álcool traz aumento de apenas 2 cv ao Cinquecento,
que oferece o motor de 16 válvulas nas versões Sport e Cabrio
Texto: Fabrício Samahá e Geraldo Tite Simões – Fotos: divulgação Os preços pouco atraentes do álcool combustível País afora, que em raros casos fazem compensar seu uso do ponto de vista financeiro, não têm impedido que os fabricantes continuem a desenvolver versões flexíveis em combustível de seus automóveis, em geral incentivados por aquela parcela do público que acredita que perderá (mais) na revenda se comprar um carro movido apenas a gasolina. O mais recente a passar pelo processo é o Fiat 500 com motor MultiAir.
O “Cinquecento” — pronúncia italiana do número — já era flexível desde o lançamento da versão mexicana para o Brasil, em agosto de 2011, mas só na versão de entrada Cult com motor Fire Evo de duas válvulas por cilindro. As outras (Sport Air e Cabrio, pois a Lounge saiu do mercado), dotadas da unidade MultiAir de quatro válvulas por cilindro, consumiam apenas gasolina. A conversão feita pela Engenharia Powertrain da Fiat em Betim, MG, levou ao primeiro motor flexível do grupo em âmbito mundial a usar o sistema MultiAir.
Nada muda na aparência do 500, ainda charmoso em seu estilo retrô; o motor passa de
105 para 107 cv com álcool, mas com gasolina mantém o desempenho do anterior
Sistema que se distingue pela forma de admissão para os cilindros: a quantidade de mistura ar-combustível é controlada pela variação de curso das válvulas de admissão, gerenciada pela central eletrônica e efetuada por sistema eletro-hidráulico, em vez da borboleta de aceleração. O objetivo é reduzir as chamadas perdas por bombeamento, as mesmas que fazem reter o carro quando se deixa de acelerar qualquer motor do ciclo Otto a quatro tempos — e que se traduzem em perda de eficiência em condições de carga parcial, ou seja, abertura apenas em parte do acelerador.
As alterações no motor para uso de álcool passaram por aumento da taxa de compressão (de 10,8:1 para 11,7:1, ainda um tanto moderada) e novos injetores, velas de ignição, bronzinas e junta do cabeçote. Adotou-se também um quinto injetor no coletor de admissão para facilitar a partida a frio, que continua a usar gasolina armazenada em reservatório junto ao motor (a Fiat está demorando a adotar o sistema de preaquecimento de álcool, já em uso por Citroën, Ford, Honda, Peugeot e Volkswagen em alguns modelos).
O desempenho é apenas bom, longe de entusiasmar para um Sport: a esportividade está mais na forma como o motor gira e no ronco de aspiração
Em termos de desempenho, não se espere grande diferença do 500 anterior para o Flex: a potência de 105 cv e o torque de 13,6 m.kgf com gasolina foram mantidos, enquanto abastecer com álcool eleva discretamente os valores para 107 cv e 13,8 m.kgf. O motor pode vir com câmbio manual de cinco marchas (apenas no Sport) ou um automático de seis da marca japonesa Aisin (já oferecido antes e de série no Cabrio), que passou por evoluções em cinco funções: Kick-Down, que reduz rapidamente as marchas em caso de retomada; Brake Assistant, para redução automática de marchas em freadas intensas; Up-Down Slope, para adaptação das marchas do veículo à inclinação do terreno; Cornering, que inibe a troca para cima em curvas de baixa aderência; e Fast-Off, que impede a mesma troca quando se tira o pé rapidamente do acelerador, a fim de propiciar freio-motor.
De resto é o mesmo 500 já conhecido, ainda charmoso — apesar de lançado na Europa em 2007 — com seu estilo retrô, agradável de dirigir e bem equipado em termos de segurança, pois vem de série com controle eletrônico de estabilidade e sete bolsas infláveis (frontais, laterais dianteiras, cortinas laterais e para os joelhos do motorista).
O painel na cor da carroceria é um dos detalhes interessantes do pequeno Fiat; outro
deles, o teto de lona da versão Cabrio, que pode ser recolhido até a parte traseira
A Fiat chamou a imprensa para uma quase-avaliação em percurso de 10 quilômetros em São Paulo, na qual dirigimos o Sport com câmbios manual e automático. Mesmo quem tiver uma versão a gasolina para comparar terá dificuldade em notar algum aumento de potência ao dirigir o Flex com álcool, mas o desempenho continua bom — e apenas isso, longe de entusiasmar para um carro com a designação Sport. A esportividade está mais na forma como o motor gira alegre, até perto de 7.000 rpm, e no ronco de aspiração que ele produz quando acelerado a fundo.
O câmbio manual tem comando leve e preciso e o automático opera muito bem, com marchas próximas entre si para pleno aproveitamento do motor. A suspensão firme transmite sensação de estabilidade (o preço a pagar é o desconforto em pisos irregulares, agravado pelos pneus de perfil bem baixo, série 45), sobretudo com a direção em seu modo menos assistido, selecionado pelo botão Sport no painel, que também deixa mais rápidas as respostas do acelerador. No modo normal, em contrapartida, o volante fica bastante leve e facilita as manobras, sobretudo para o público feminino (leia a avaliação comparativa do 500 Sport para conhecer mais).
A Fiat ainda não divulgou os preços do 500 MultiAir flex, mas a expectativa é de que fiquem próximos aos das versões anteriores a gasolina — R$ 49.390 o Sport Air manual, R$ 53.430 o automático e R$ 60.200 o Cabrio, que vem com o câmbio automático de série —, já que a redução no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para modelos flexíveis permite ao fabricante compensar em parte os custos de desenvolvimento.
Fonte: BCWS