PRIMEIRAS IMPRESSÕES: CITROËN C4 CACTUS NACIONAL
Em seu pior momento no Brasil, Citroën prepara o lançamento do utilitário compacto que chega entre setembro e outubro para revitalizar a marca
por DIOGO DE OLIVEIRA
25/05/2018 00h01PARA SE DIFERENCIAR, CACTUS NACIONAL APOSTARÁ NO MOTOR 1.6 THP FLEX DE 173 CV ASSOCIADO AO CÂMBIO AUTOMÁTICO DE SEIS MARCHAS (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Era verão de 2003 quando acompanhei meu pai até a concessionária Versailles, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, para fazer a revisão do seu Xantia. Eu adorava ir à oficina e conferir os modelos novos do showroom. E foi numa dessas visitas que avistei pela primeira vez o Citroën C3. Na época, fiquei encantado com seu design. Era totalmente fora do padrão da categoria, por fora e por dentro. Queria que meu velho levasse o hatch para casa — até tentei convencê-lo! Mas não era barato e não tínhamos grana para outro Citroën. A francesa sempre atuou como marca premium e cobrava caro. Qualquer parada do sedã médio na manutenção era uma nota.
Isso foi há mais de 15 anos, e muito mudou desde então. A revenda Versailles fechou e o momento da parisiense não é dos melhores, o que joga a responsabilidade sobre seu futuro lançamento, o inédito Citroën C4 Cactus. Lançado na Europa em 2014, o utilitário derivado do C3 surgiu com elevada dose de irreverência, bem ao estilo do fabricante. A primeira versão, já cotada para o Brasil, apareceu como conceito em edições passadas do Salão do Automóvel de São Paulo, mas era excêntrica demais para os padrões daqui. Os airbumps, bolsas de ar externas que preenchiam laterais e para-choques para proteger a carroceria de "encostões", acabaram descartados no facelift deste início de ano, o que deixou o SUV compacto menos extravagante.
AINDA NOS TESTES FINAIS DE VALIDAÇÃO, CACTUS DEVE CHEGAR ÀS LOJAS BRASILEIRAS ATÉ OUTUBRO COM PREÇOS ENTRE R$ 75 MIL E R$ 100 MIL (FOTO: DIVULGAÇÃO)As mudanças tornaram o design mais palatável, para finalmente ganhar outros mercados — em especial o brasileiro, onde terá produção local, na fábrica de Porto Real (RJ), a partir do segundo semestre deste ano. Por aqui, o crossover terá a indigesta missão de guinar novamente o negócio da Citroën, que anda bem cabisbaixo. Nos últimos anos, a francesa viu as vendas internas despencarem, e a crise financeira imobilizou os negócios, retardando a chegada de novidades. Agora, a marca corre para finalizar o projeto do C4 Cactus nacional, indicado pela sigla F3. Para colher as primeiras impressões, e fazer os últimos ajustes, a montadora convidou alguns jornalistas para acelerar o protótipo. Eu fui um deles.
Tropicalização profundaPara produzir e vender o C4 Cactus no Brasil e na América Latina, a Citroën fez alterações bem mais profundas do que o visual externo faz parecer. Visto de fora, o SUV parece igual ao fabricado na Espanha e comercializado na Europa. O design é ousado e distinto como no C3 de primeira geração, do início dos anos 2000.
Frente aos utilitários atuais, traz uma quebra de padrão interessante, que despertará curiosidade. Contudo, a casca futurista esconde soluções locais. A montadora não comenta nada sobre o produto, mas sabemos que a plataforma do C4 Cactus daqui é uma adaptação da estrutura PF1, compartilhada por Aircross, C3 e os Peugeot 208 e 2008, o que não descredencia o futuro aventureiro.
SUV MOSTROU ÓTIMO EQUILÍBRIO DINÂMICO E ROBUSTEZ AO ENCARAR PISOS IRREGULARES; FRENTE AO EUROPEU, DEVE TRAZER AMORTECEDORES COMUNS (FOTO: DIVULGAÇÃO)Adaptações, porém, deixarão o C4 Cactus nacional simplificado. O conjunto de suspensão, por exemplo, não deve adotar as buchas hidráulicas do europeu, que foram bastante elogiadas nas primeiras avaliações do carro na Europa. A solução entrega o famoso conforto de rodagem que marcou os Citroën com suspensão hidropneumática — ê saudade do Xantia do meu pai! Por aqui o crossover deve trazer amortecedores tradicionais no conjunto McPherson combinado ao robusto eixo de torção da traseira, mais barato, porém adequado ao asfalto brasileiro. Já o interior será diferente do gringo, sobretudo em materiais.
No contato que tivemos com protótipos ainda camuflados, deu para notar muitas mudanças entre os modelos de lá e daqui. Para começar, o C4 Cactus brasileiro não terá o requinte do franco-hispânico. Os plásticos que cobrem a cabine são quase todos rígidos sem muito glamour. Algumas peças, como maçanetas e botões dos vidros elétricos, virão da dupla C3 e Aircross, enquanto a alavanca do câmbio, o quadro de instrumentos digital e a central multimídia são os mesmos do sedã médio C4 Lounge, reestilizado neste início de ano. A tela de sete polegadas, por sinal, foi reposicionada para o centro do painel, deslocando as saídas de ventilação para o topo. E o estiloso porta-luvas que se abre para cima foi substituído por um convencional.
CITROËN AINDA NÃO REVELOU O PAINEL DO CACTUS BRASILEIRO, MAS JÁ SABEMOS QUE O QUADRO DE INSTRUMENTOS DIGITAL SERÁ O MESMO DO C4 LOUNGE (FOTO: DIVULGAÇÃO)Mecânica será trunfoAinda sobre a cabine, outras soluções vistas no estrangeiro ficaram de fora. Uma delas é o airbag do passageiro fixado no teto, que abre espaço ao porta-luvas no alto. Aqui, o C4 Cactus terá airbag convencional, à frente do passageiro. Além das bolsas frontais, os protótipos traziam airbags laterais. Se perdeu modernidades, o crossover nacional ao menos ganhou itens interessantes. As janelas traseiras, por exemplo, terão vidros que se abrem no lugar dos basculantes do europeu. Em espaço, não será referência, mas promete receber melhor os adultos e bagagens que o irmão Peugeot 2008. Vãos para pernas e cabeças são maiores no SUV da Citroën.
Se parece simples por dentro para um Citroën de visual hipster, é ao volante (de estilo próprio) que o C4 Cactus promete se destacar. Na missão de rodagem com os protótipos, batizada de "Orion", as quatro unidades contavam com o potente conjunto que combina o motor 1.6 THP turbo flex e o câmbio automático de seis marchas, presentes no C4 Lounge. No sedã médio e em outros carros do grupo francês, rende 173 cv a 6.000 rpm e torque de 24,5 kgfm desde 1.400 giros com etanol. Supondo que o crossover tenha seus 1.200 kg, a mecânica dará fôlego maior que nos rivais diretos, incluindo Hyundai Creta, Honda HR-V, Nissan Kicks, Jeep Renegade e o turbinado Chevrolet Tracker.
CROSSOVER TAMBÉM HERDARÁ DO LOUNGE A TELA MULTIMÍDIA DE SETE POLEGADAS COM AS PLATAFORMAS ANDROID AUTO E CARPLAY E APENAS UMA USB (FOTO: DIVULGAÇÃO)A unidade que mais agradou produziu belas arrancadas e consumo na casa dos 11 km/l de gasolina, com ergonomia agradável e ótimo equilíbrio dinâmico. Só faltaram paddle-shifts. Outro recurso interessante será o Grip Control, já presente no 2008, com quatro modos (normal, neve, areia e lama) e opção para desligar o controle de estabilidade. Não fará milagres no offroad, uma vez que o C4 Cactus terá tração dianteira, mas será um diferencial para a maioria da clientela, que roda na cidade e pega uma terra de vez em quando. Resta saber como a Citroën vai "empacotar" o SUV, que deve ter versão 1.6 aspirada e preços entre R$ 75 mil e R$ 100 mil. A estreia deve acontecer entre setembro e outubro.
ESTA É A PRIMEIRA IMAGEM OFICIAL DO CACTUS BRASILEIRO, QUE TEM O MESMO VISUAL ADOTADO PELO EUROPEU NA REESTILIZAÇÃO FEITA NESTE ANO (FOTO: DIVULGAÇÃO)Pintura em dois tonsAs primeiras fotos oficiais do C4 Cactus nacional foram divulgadas uma semana depois que aceleramos o SUV, ainda camuflado, por estradas vicinais da região de Itatiaia, no sul do Rio de Janeiro. Na ocasião, a Citroën não comentou sobre os detalhes do SUV, mas as imagens mostram que a montadora apostará na customização. O cliente poderá escolher carroceria em duas cores, com o teto combinando tons com espelhos retrovisores e detalhes nos para-choques e nas laterais. O visual será bem aventureiro, com molduras plásticas cobrindo toda a parte inferior. A cor azul será a de lançamento.
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Não gostamos: Acabamento pode decepcionar e espaço interno não será referência
UTILITÁRIO VIRÁ COM RACK NO TETO, PARA AMPLIAR A SENSAÇÃO DE ALTURA, E APOSTARÁ NO ESTILO AVENTUREIRO, COM PLÁSTICOS NA PARTE INFERIOR (FOTO: DIVULGAÇÃO)COMENTÁRIOS: Vejam que testando exatamente os mesmos carro ao que parece, no UOL, falam de interno macio e aqui, de plástico duro.