Venda direta prejudica a rede e escancara o Lucro Brasil
Só neste ano, 650 mil carros (33,2% do total) foram vendidos com desconto para VIPs, frotistas e locadoras
Texto: Joel Leite
Foto: Divulgação
(17-11-11) – As concessionárias estão preocupadas com o que consideram uma concorrência desleal na venda de carros novos. O nome que se dá a essa operação é “venda direta”.
Isso não é novidade; a venda direta para empresas frotistas, locadoras de veículos e pessoas físicas sempre existiu. É uma forma de beneficiar os grandes compradores, oferecendo descontos especiais. Mas o que está preocupando o setor de distribuição é que o volume de carros vendidos sem a participação da rede cresce a cada dia e chega esse ano a níveis insustentáveis na opinião dos concessionários.
Dos 1.958.071 carros e comerciais leves vendidos esse ano (janeiro a outubro) pelas três grandes (Fiat, GM, Volks) mais a Ford, 650.342 unidades foram vendas diretas, sendo 74,8% para pessoa jurídica e 14,8% para pessoa física.
A operação deixou de ser uma simples alternativa de vendas, para representar uma participação extraordinária no faturamento das montadoras. Até outubro 33,2% das vendas foram feitas de forma direta (no ano passado foram 27,1%).
“As montadoras criaram um segundo canal de distribuição, que não tem responsabilidade de dar garantia ao cliente” diz Sérgio Reze, presidente da Fenabrave, que reúne as associações de marcas do Brasil.
Esse canal de distribuição funciona assim: a empresa compra um lote de carros de montadora e esses carros vão fazer as revisões gratuitas nas concessionárias, que acabam arcando com os custos de um serviço sobre um produto que não venderam, e portanto não ganharam nenhuma comissão.
Isso está previsto na legislação que regula as relações entre fabricantes e distribuidores, mas um número de casos tão grande distorce o acordo.
Sergio Reze questiona que as locadoras fazem operação de vendas e não têm nenhuma responsabilidade em relação ao recolhimento de impostos. “Eles não pagam PIS, COFINS, ICMS” diz o dirigente.
Essa prática cria uma distorção no mercado. A locadora de veículos tem grandes benefícios de montadoras, pagam o carro muito mais barato do que a concessionária. O princípio é louvável: a locadora é um grande comprador, que vai usar o carro para servir o consumidor, que, consequentemente, pagaria um preço menor pela locação. Mas a locadoras deturpam o benefício e vendem o carro em vez de colocá-lo na frota, transformando-se em grandes revendedores. Oferecem carro zero a preço abaixo da tabela, fazendo uma concorrência desleal com as concessionárias.
O prazo regulamentar para a locadora disponibilizar o carro para venda é de seis meses, mas muitas vendem antes disso, como carro OK. Segundo os revendedores, as grandes montadoras destinam até 40% das suas vendas aos frotistas. E os preços são atraentes.
Um ex gerente de uma das principais locadoras brasileiras, que não quis de identificar, disse que os preços pagos por essas empresas por carros de entrada chegam a descontos de 35%, caso citado por ele do Corsa Classic, da GM. Ora, se é possível dar um desconto de 35% num carro de entrada, porque não vender esse carro mais barato para o consumidor final. Que margem é essa que permite um desconto tão grande?
As montadoras usam o expediente para aumentar as vendas nos últimos dias do mês, desovando o estoque para locadoras e assim fecham o período com a maior participação possível.
O consumidor acaba ganhando, pois tem a possibilidade de pagar mais barato o carro na locadora do que na concessionária. Mas os revendedores estão revoltados porque quem paga a conta são eles.
“O próprio consumidor e o governo também pagam a fatura, porque os carros vendidos pelas locadoras não recolhem imposto”, lembra Sérgio Reze.
E o episódio mostra mais uma vez que, se a montadora pode vender para o frotista com um desconto tão grande, o Lucro Brasil é uma indecência.
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Joel Leite (joelleite@autoinforme.com.br) é diretor da Agência AutoInforme, especializada no setor automobilístico, que fornece informações para vários veículos de comunicação. Produz e apresenta o Boletim AutoInforme, das rádios Bandeirantes, Band News e Sul América Trânsito. É formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduado em Semiótica e Meio Ambiente.
FONTE:
http://www.webmotors.com.br/wmPublicador/Colunista2_conteudo.vxlpub?hnid=46095