AUTOESPORTE DIRIGE VERSÃO PRELIMINAR DO CITROËN C4 LOUNGESaiba como funciona uma das etapas finais de desenvolvimento do sedã; modelo chega em setembro com motor 1.6 THP e câmbio automático de seis marchas por RENATA VIANA DE CARVALHO, DE CÓRDOBA (ARGENTINA)
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14/05/2013 14h38- atualizado às 16h39 em 14/05/2013
Autoesporte participou de etapa que define calibrações e acertos finais do C4 Lounge, substituto do Pallas (Foto: Divulgação)
O termo "tropicalização" está totalmente integrado ao dicionário dos engenheiros. A palavra surge sempre que é preciso definir o conjunto de mudanças pelas quais um veículo tem de passar antes de chegar ao mercado. A adequação básica é a do motor ao(s) combustível(is) local(is). Mas outros componentes precisam ser ajustados ao "nosso" gosto. A quatro meses de lançar o sucessor do C4 Pallas no Brasil, a Citroën ainda trabalha na adaptação do C4 Lounge ao Brasil, e Autoesporte teve a oportunidade de acompanhar uma das etapas finais desse desenvolvimento.
Em meados de abril, viajamos até Alta Gracia, em Córdoba, na Argentina, para participar do que a Citroën chama de síntese de cliente. Esse estágio consiste, basicamente, em um teste dinâmico feito por consumidores comuns. Ele é a penúltima de uma série de avaliações, que começa com veículos representativos de desenvolvimento, passa por modelos pré-série e pelo chamado lançamento industrial até chegar ao parc captif, quando funcionários da fábrica rodam até 600 km por semana com o carro e preparam relatórios diários nos quais destacam prós e contras. "Esse é o momento em que se finaliza a convergência de qualidade. É uma missão sem especialistas, na qual são analisados freios, suspensão, direção, calibragens em geral, dirigibilidade, qualidade dos bancos, do acabamento, do ar-condicionado etc. É quando colhemos a percepção do consumidor, as sensações, porque os dados de engenharia não são como o que o corpo sente", explica Richard Balse, responsável pela área no grupo PSA Peugeot-Citroën.
Comboio era formado por três C4 Lounge e um C4 Pallas; a cada 30 ou 40 km, motoristas e passageiros trocam de lugares para ter uma visão geral do carro (Foto: Divulgação)
Missão Ombú (Síntese de cliente) é quando colhemos a percepção do consumidor, as sensações, porque os dados de engenharia não são como o que o corpo sente"
Richard Balse, responsável pela área no grupo PSA É verdade que os jornalistas automotivos vivem palpitando sobre os carros e pensando "ah, se a montadora tivesse perguntado antes...". Pois, bem, pode-se dizer que a Citroën decidiu perguntar. Por isso, levou um grupo pequeno de representantes da imprensa argentina e brasileira para opinar sobre o C4 Lounge, à época chamado apenas pelo nome de projeto, B73. Assim, tivemos contato com o "B1", versão 2.0 a diesel; o "B2", com propulsor 2.0 a gasolina e câmbio manual, e o "B3", topo de linha equipado com o 1.6 THP e a transmissão automática de seis marchas (sim, a de quatro velocidades será, finalmente, aposentada). Isso sem falar em um C4 Pallas, que tinha a função de servir como referência para comparações.
A rodagem teve início logo cedo e funcionou da seguinte forma: um comboio partiu com os quatro veículos, cada um levou duas ou três pessoas por vez. A cada 30 ou 40 km percorridos, havia uma espécie de rodízio, em que os ocupantes trocavam de lugar e de carro - seguindo sempre o movimento anti-horário. Essa logística permitiu que todos dirigissem e andassem como passageiro em todos modelos para que, ao fim do dia, expressassem opiniões sobre as unidades avaliadas.
Antes da Missão Ombú, outras três já haviam sido realizadas, duas no país vizinho, uma no Brasil. Nenhuma delas, porém, contou com a presença de jornalistas. Ah, e se você ficou curioso a respeito do nome da missão, aqui vai a explicação: no caso do C4 Lounge, todas foram batizadas com alcunhas de árvores com raízes profundas, típicas argentinas. A escolha tem um objetivo: passar a ideia de robustez e estabilidade.
Em etapa conhecida como "síntese de cliente", ainda é possível mudar calibragens de suspensão, motor, câmbio e direção (Foto: Divulgação)
Um carro mais equilibrado Mesmo sem apresentar as definições finais, o C4 mostrou boas características nos 300 km percorridos. Deixar os brasileiros dirigirem a versão a diesel foi como mostrar um belo prato de doce a um diabético. Equipada com rodas aro 17 e pneus de 45 polegadas, ela apresentou o melhor acerto de suspensão. O carro estava sempre à mão e com fôlego de sobra. A acústica foi um dos destaques do modelo, que teve apenas um grande defeito apontado: não vir para o Brasil.
Brasil só perde para o México quando o assunto é dificuldade de adaptação, porque lá, além de tudo, tem a alta altitude"
Richard Balse Os outros dois modelos foram analisados mais à fundo, já que estarão no mercado nacional. Na reunião com a equipe de engenharia da Citroën, o grupo de jornalistas destacou o maior equilíbrio do C4, que recebeu suspensão mais firme, sem perder o foco no conforto - o que pode ser explicado pela mudança na articulação da suspensão no eixo traseiro. A mudança das rodas aro 17 para 16 na versão 2.0 a gasolina mexeu demais com o C4, contudo. A impressão era de que o acerto de suspensão pudesse até ser outro, já que o carro passou a escapar mais. "Isso é algo que teremos de avaliar. Não deveria haver tanta diferença de comportamento com a mudança das rodas", fala Richard.
A direção dividiu opiniões. Houve quem achou boa a gradação de peso de acordo com a velocidade e quem a achou anestesiada. Assim, tornou-se outro aspecto digno da atenção da Citroën. "Os brasileiros procuram uma direção leve para manobra, mas com resposta direta na condução comum. Temos de buscar o acerto ideal", explica o gerente da síntese de cliente. A transmissão combinada ao propulsor 2.0 manteve os tradicionais engates longos e, por isso, foi criticada. Apesar disso, as relações pareceram acertadas, somente a quinta marcha poderia ser alongada. "O câmbio tem de ter relação de marchas diferentes aqui. O país tem muitas subidas e o condutor não quer ter de reduzir o tempo todo, nem de engatar a primeira para sair de uma lombada, por exemplo. Isso é pouco aceito", resume Richard.
Novos motor e câmbio As primeiras "mulas" do C4 Lounge eram, na verdade, Peugeots 408 disfarçados. E é justamente do irmão que o sedã tomará emprestado o conjunto mecânico que traz motor 1.6 THP de 165 cv e transmissão automática sequencial de seis marchas. Nessa configuração, o C4 Lounge volta a mostrar boa disposição e o câmbio funciona muito bem, com trocas no momento certo, sem trancos. Mas não espere opção de trocas a partir de borboletas no volante. Embora ofereça essa opção no C3, a Citroën não pareceu certa sobre a preferência por paddle shifts em consumidores desse segmento.
Interior do DS4 é referência para o C4 Lounge, especialmente na versão mais completa, com motor THP (Foto: Divulgação)
Posicionado como topo de linha, ela deve chegar às lojas com os equipamentos que exibia em nossa "missão": teto panorâmico, monitor central, ar-condicionado automático digital, GPS e botão start/ stop - que fica posicionado à esquerda do volante. "Curiosamente, todas as mulheres chamaram atenção para o posicionamento do botão", comenta Richard. Nós corroboramos: porque não ser prático e colocar no lado usual?
O C4 Lounge THP também se diferencia pelo painel inspirado no do DS4. Apontamos na clínica que esse deveria ser o painel e o quadro de instrumento de todas as versões. Mas isso não deve ser revisto já. Quem sabe na primeira reestilização... Aliás, essa era uma dúvida recorrente: o que, de fato, ainda poderia ser alterado nessa etapa do desenvolvimento? De acordo com a Citroën, é possível mexer em itens como calibração de motores, leis que determinam as trocas de marchas do câmbio automático e o funcionamento do sistema de amortecimento, isolamento acústico, calibração do ar-condicionado, rigidez das espumas do banco (que ficaram bem melhores, diga-se de passagem), entre outros itens.
Na China e aqui
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O C4 Lounge é um projeto global adaptado a cada mercado em que será vendido. Na comparação com o modelo chinês, algumas distinções são notórias. O nome é a primeira delas: chamado C4 L na China, o modelo teve o nome "espichado" por aqui.
Além disso, a estética também mudou um pouco. No "nosso" C4, não há espaço entre os faróis e a grade, ambos estão conectados (ao contrário do que se vê na foto do C4 L). O conjunto ótico também tem leve diferença no formato e na disposição interna. O desenho do para-choque muda e abriga luzes de neblina novas. Atrás, o principal destaque é para ponteira visível do escapamento.
O visual não foi muito debatido durante a missão, já que não poderia sofrer alterações. Mas a verdade é que o estilo não traz nenhuma ousadia e alguns jornalistas desaprovaram o friso cromado na tampa do porta-malas. A equipe da Citroën revelou que a dianteira não foi tão bem aceita nas clínicas.
A verdade é que o modelo ficou mais sóbrio - identidade assumida, inclusive, no interior, que perdeu o volante com centro fixo. |
Após a conversa com a imprensa brasileira, além dos pontos já mencionados, os engenheiros ficaram de analisar se o câmbio do 2.0 poderia ter uma quinta marcha mais longa ou, eventualmente, se poderia ser adotada uma caixa de seis marchas. Os braços pantográficos visíveis e ocupando espaço no porta-malas, assim como o acabamento no compartimento, também devem ser alvo de estudo. A questão dos braços, porém, não tem como ser revista agora. Vale destacar que o porta-malas ficou cerca de 10% menos, segundo a Citroën. Assim, o volume comportado deve passar a ser de aproximadamente 460 l, ante os 513 l anteriores.
Ah, podemos adiantar aqui que os passageiros dos bancos traseiros vão encontrar bancos com assentos mais baixos e encostos mais inclinados que os do C4 Pallas. As mudanças são bem-vindas, especialmente porque o teto do Lounge ficou mais baixo atrás, o que pode, até, se tornar um problema para quem for mais alto. Esses aspectos, também, foram reportados à Citroën.
Até abril, o C4 Lounge havia encarado cerca de 100.000 mil km de testes. E outros 900.000 km estavam programados, com a chegada à fase parc captif. Em setembro, teremos a chance de verificar o quanto a Citroën aproveitou, ou não, as observações apresentadas - e se as dos jornalistas estavam alinhadas à dos consumidores finais do carro. Se o carro trouxer melhorias dos pontos criticados, poderemos dizer que tivemos parte nisso. Senão, os destaques negativos vão se repetir. Mas, aí, a montadora não poderá dizer que não foi avisada, não é?
Dicionário
Mulas
| Primeiros modelos físicos de um novo carro (ou de uma reestilização). Nessa fase, nenhum elemento visual faz diferença, por isso, pode-se adaptar até mesmo um outro veículo (como o 408, neste caso) para realizar os primeiros testes. |
Pré-série
| Versão igual à que será produzida em série. Só que ainda precisa passar por testes de durabilidade, ruídos e afins. |
Parc captif
| Etapa final dos testes, em que cerca de 250 funcionários da PSA usam o carro no dia a dia e montam relatórios com aspectos positivos e negativos que identificam. Todos possuem o mesmo perfil do público-alvo do veículo e rodam, pelo menos, 600 km com o modelo. |