Garagem CARPLACE #6: seria melhor ter mantido o Gol G5 básico em vez do up!?
25/03/2014 | Por:
Daniel Messeder | 82 Comentários
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O papel de jornalista automotivo inclui, na minha visão, uma eterna cobrança em cima das montadoras por veículos melhores, mais modernos, seguros, acessíveis, econômicos e, de preferência, em sintonia com os principais mercados mundiais. É por isso que quando chega um carro como o VW up! no Brasil há uma enxurrada de reportagens positivas (que alguns que nada entendem do setor chamam de “compradas”) na imprensa. Existe também uma esperança de que, caso um carro desses faça sucesso, haverá uma pressão sobre a concorrência para também lançar produtos mais competitivos ou efetuar melhorias nos já lançados.
Diante disso, confesso que recebi com certo desapontamento a notícia de que as vendas do up! não começaram muito bem. Afinal, o brasileiro não queria um carro seguro, econômico, bem construído, com bom desempenho e projeto de “Primeiro Mundo”? Pois aí está o up!. Na minha visão, somente o Hyundai HB20 faz frente a ele em termos de carro 1.0 atualmente – só que o VW começa mais barato, embora seja menor. E convivendo com o carrinho durante um mês aqui no Garagem CARPLACE, nós estamos colhendo bem mais elogios do que críticas. OK, o preço pode ter ficado um pouco acima das expectativas, mas o que o consumidor esperava? Que o up! tivesse o valor do Palio Fire? Sem chance: não custa lembrar que o Fire, embora honesto pela cifra cobrada, deriva diretamente do Palio de 1996.
Desde o começo do projeto do up! nacional, alongado e modificado em diversos aspectos em relação ao projeto europeu, nós do
CARPLACE sempre dissemos que ele não seria barato. Afinal de contas, o compacto traz um motor de última geração (1.0 EA-211 de três cilindros todo de alumínio, cabeçote 12V e comando variável), usa uma plataforma inédita e é construído com uma série de aços de alta resistência que custam caro. Ninguém na Volkswagen vai admitir isso, mas eu apostaria alto que o custo de produção de um up! é maior que o do próprio Gol.
Vejamos: o Gol usa a plataforma do Polo 2002, que já teve 12 anos para se pagar. Aços de alta resistência? Não como no up!: o Gol conseguiu apenas três estrelas no teste de impacto do Latin NCAP, contra cinco do novato. Motor moderno? Nada disso: o 1.0 TEC é apenas uma evolução do 1.0 VHT lançado com o Gol G5 em 2008, com quatro cilindros que bebem mais e desenvolvem menos que o tricilíndrico do up!. Resta ao Gol a ótima reputação do mercado, a fama de robustez e a baixa desvalorização. De resto, o up! nada de braçada.
Ah, mas tem a questão do tamanho – sempre ela! Como escrevi no comparativo entre o novo Corolla e o Civic, acho que brasileiro compra carro por metro quadrado. E, de fato, o Gol ocupa mais espaço na garagem que o up!. Mas, na cabine e no porta-malas, essa diferença é pequena. Repare que muito da “vantagem” do Gol se dá na dianteira, uma área inteiramente dedicada ao motor e periféricos. Há um pouco mais de espaço para as pernas no banco traseiro e o acesso pelas portas de trás é mais fácil, mas o up! responde com o teto elevado que deixa a cabeça longe da forração. Fora isso, os bancos dianteiros são bem mais confortáveis no up!, sem falar na posição de dirigir mais centralizada. Entendo quem compre o Gol pela boa dirigibilidade, e realmente ele é um pouco melhor de “chão” que o up!. Mas isso realmente importa entre carros 1.0? Não é melhor andar mais e beber menos?
A gente aqui não escreve para defender ou atacar a marca A ou B, mas apenas para apurar os fatos. E o fato é que o up! é um produto moderno, com projeto bastante racional, muito bom de dirigir na cidade, surpreendente na estrada (para um “mil”) e ainda é pão duro na hora de abastecer. Eu não teria dúvidas entre ele e um Gol 1.0. Sinceramente, quem critica o up! possui um carro de categoria bem superior ou nunca parou para dirigir o pequeno Volks e compará-lo aos seus rivais.
Já rodamos mais de 3 mil km até agora com o carrinho e, quanto mais tempo passa, mais ficam claras suas qualidades. Na minha família mesmo, houve quem tivesse preconceito contra o up! e, após conhecê-lo e dirigi-lo, mudou completamente de opinião. Há problemas? Claro, a VW não precisava ser tão mesquinha a ponto de eliminar um conta-giros da versão básica, e bobeiras como vidros elétricos sem comando “um toque” e sem iluminação noturna nos botões não combinam com um compacto tão moderno. Mas defeito grande, mesmo, não encontramos.
Talvez a principal questão seja o tal “preço versus tamanho”. O brasileiro não entendeu o primeiro Mercedes Classe A e será uma pena se não entender o up!. A VW poderia ajudar? Sim: criando uma versão intermediária Move up! na casa dos R$ 33,5 mil com os desejados travas e vidros elétricos, ar-condicionado e direção elétrica. E também fazendo uma campanha que convidasse o público a fazer o test-drive, como a Ford já fez no começo dos anos 2000.
Gol G5 como carro de entrada?Um pensamento retrógrado, mas que talvez fizesse sentido em nosso mercado que paga por roda de liga mas dispensa segurança, nos levou a uma curiosa discussão na redação esses dias. O assunto foi: e se a VW, em vez de trazer o up!, mantivesse uma versão pé-de-boi do Gol “G5″ (antes da última reestilização) pelos mesmos R$ 28.900? Talvez hoje o Gol não estivesse ameaçado de perder a liderança para Strada e Palio, e a Volks teria economizado milhões. Seria a decisão mais correta? Como jornalistas automotivos, respondemos com um sonoro NÃO. Mas pelo visto muitos consumidores discordam da gente…
Por Daniel Messeder
Fotos Diogo Dias e Divulgação