NOTÍCIA PUBLICADA HOJE, 18/05/09, NO JORNAL VALOR ECONÔMICO, EDIÇÕES DE BANCA E VIRTUAL:
Veículos: Nos próximos dias, unidade de Campo Largo (PR) entra em processo de pré-sérieCom motores, Fiat reduz antiga vantagem tecnológica da GM
Marli Olmos, de São Paulo
18/05/2009
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Prestes a iniciar a produção de novos tipos de motores na fábrica que comprou em Campo Largo, no Paraná, o grupo Fiat tem dado passos na área tecnológica que o aproximam cada vez mais de um conhecimento que outrora era uma vantagem da General Motors em relação à companhia italiana. Se na união com a GM, até três anos atrás, a Fiat tirou proveito dessa expertise da parceira, no Brasil um eventual novo casamento pode, no entanto, resultar em mais trabalho de enxugamento do que em ganhos de sinergia.
Franco Ciranni, superintendente da Fiat Powertrain (FPT), empresa do grupo italiano que produz motores e câmbios, conta que nos próximos dias será iniciada, na fábrica do Paraná, a produção de pré-séries dos novos motores. Esses primeiros motores serão submetidos a testes de qualidade. A produção em série começará antes do fim do ano, segundo a empresa. Na fábrica de Campo Largo trabalham hoje 250 funcionários.
Os primeiros motores serão 1.4 e 1.6. A FPT ainda está por decidir sobre o projeto de um tipo de motor com cilindrada mais elevada. O motor 1.8 dos carros da montadora italiana ainda são fornecidos pela GM, um rescaldo dos tempos da antiga parceria.
Ciranni e todos os demais executivos, tanto da Fiat como da General Motors, não querem falar sobre as notícias de que a empresa com sede em Turim teria interesse em ficar também com as operações da americana na América Latina no caso de uma compra da Opel, divisão da General Motors na Europa.
Mas o executivo sorri quando questionado sobre eventuais sinergias em motores, numa demonstração de que hoje a empresa italiana está numa posição mais confortável em termos de desenvolvimento tecnológico. Uma evolução que a coloca, aliás, em condições de ser ela uma fornecedora de motores para outras montadoras, como a própria Chrysler, sua mais nova parceira.
A FPT tem a intenção de também ampliar a gama de clientes fora do grupo Fiat. Há planos, por exemplo, de exportar motores para os veículos Chrysler a partir do Brasil. A instalação de Campo Largo (PR) já foi uma fábrica que pertenceu a uma joint venture entre a Chrysler com a alemã BMW.
Além de se aperfeiçoar em motores de maior cilindrada, também é projeto do grupo Fiat melhorar o desempenho dos menores. "A tendência é o chamado 'downsizing', que significa fortalecer o motor pequeno para dar a ele desempenho de motor grande, com a vantagem de redução de emissões", afirma o presidente do grupo Fiat, Cledorvino Belini.
Em relação à possibilidade de a Fiat ficar com as operações GM no Brasil, o professor José Roberto Ferro, um estudioso em manufatura automotiva, vê poucas chances de sinergias. Ele lembra que nos últimos anos ambas se desenvolveram em áreas vitais como pesquisa e desenvolvimento e engenharia. "As duas empresas investiram na criação de centros poderosos de desenvolvimento de produto", lembra.
No que diz respeito à manufatura, as duas empresas têm fábricas no Brasil e na Argentina. Haveria uma vantagem para a Fiat se o México estivesse incluído no pacote, já que a montadora italiana não tem nenhum tipo de operação industrial naquele país.
Em relação aos modelos de veículos vendidos na América do Sul, a General Motors se dá melhor em automóveis de médio e grande porte enquanto a montadora italiana, apesar dos esforços em lançamentos como o modelo Linea, ainda tem seu ponto mais forte nos veículos pequenos.
Mas ainda assim, Ferro afirma que haveria uma repetição de diversos tipos de modelos se ambas se unissem. É o caso de Uno e Palio, da Fiat, com Celta e Corsa, da General Motors. A situação brasileira é diferente da Europa, onde a Opel proporcionaria uma complementaridade de produtos, diz Ferro.
Nas exportações, porém, é muito provável que a Fiat viesse a tirar vantagem da força que a GM tem em determinados mercados, como Colômbia e Venezuela.
A falta de oportunidades para sinergias pode ser um problema para a Fiat. Vale lembrar que a união do passado foi uma mera parceria, na qual as duas empresas compartilharam, por exemplo, a área de compras, o que lhes deu uma grande força na negociação com os fornecedores.
Mas no caso que se cogita hoje, seria uma compra de operações da GM pela Fiat. Isso implica em um necessário enxugamento de operações. Para Ferro, colocar a casa em ordem de duas das três maiores fabricantes de veículos do país não levaria menos do que dois ou três anos. "É muita coisa se levarmos em conta que a Fiat já terá trabalho suficiente com a Chrysler", destaca o professor. No caso de Chrysler, o maior objetivo da montadora italiana é ingressar no mercado americano, do qual ainda não participa.
Em termos financeiros, apesar da vantagem em relação principalmente às montadoras americanas, a Fiat estava no fundo do poço há poucos anos. Em 2002, a empresa lutava para conter prejuízos e restaurar participação de mercado.
No caso brasileiro, com a junção das duas surgirá uma companhia dona de quase a metade do mercado. Para Ferro, é mais provável que, com o tempo, uma fatia de mercado tão grande venha a diminuir pela ação de concorrentes que agem de forma mais modesta no mercado brasileiro, como é o caso das japonesas Honda e Toyota, ou das francesas Renault e Peugeot.
Veículos: Nos próximos dias, unidade de Campo Largo (PR) entra em processo de pré-sérieCom motores, Fiat reduz antiga vantagem tecnológica da GM
Marli Olmos, de São Paulo
18/05/2009
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Prestes a iniciar a produção de novos tipos de motores na fábrica que comprou em Campo Largo, no Paraná, o grupo Fiat tem dado passos na área tecnológica que o aproximam cada vez mais de um conhecimento que outrora era uma vantagem da General Motors em relação à companhia italiana. Se na união com a GM, até três anos atrás, a Fiat tirou proveito dessa expertise da parceira, no Brasil um eventual novo casamento pode, no entanto, resultar em mais trabalho de enxugamento do que em ganhos de sinergia.
Franco Ciranni, superintendente da Fiat Powertrain (FPT), empresa do grupo italiano que produz motores e câmbios, conta que nos próximos dias será iniciada, na fábrica do Paraná, a produção de pré-séries dos novos motores. Esses primeiros motores serão submetidos a testes de qualidade. A produção em série começará antes do fim do ano, segundo a empresa. Na fábrica de Campo Largo trabalham hoje 250 funcionários.
Os primeiros motores serão 1.4 e 1.6. A FPT ainda está por decidir sobre o projeto de um tipo de motor com cilindrada mais elevada. O motor 1.8 dos carros da montadora italiana ainda são fornecidos pela GM, um rescaldo dos tempos da antiga parceria.
Ciranni e todos os demais executivos, tanto da Fiat como da General Motors, não querem falar sobre as notícias de que a empresa com sede em Turim teria interesse em ficar também com as operações da americana na América Latina no caso de uma compra da Opel, divisão da General Motors na Europa.
Mas o executivo sorri quando questionado sobre eventuais sinergias em motores, numa demonstração de que hoje a empresa italiana está numa posição mais confortável em termos de desenvolvimento tecnológico. Uma evolução que a coloca, aliás, em condições de ser ela uma fornecedora de motores para outras montadoras, como a própria Chrysler, sua mais nova parceira.
A FPT tem a intenção de também ampliar a gama de clientes fora do grupo Fiat. Há planos, por exemplo, de exportar motores para os veículos Chrysler a partir do Brasil. A instalação de Campo Largo (PR) já foi uma fábrica que pertenceu a uma joint venture entre a Chrysler com a alemã BMW.
Além de se aperfeiçoar em motores de maior cilindrada, também é projeto do grupo Fiat melhorar o desempenho dos menores. "A tendência é o chamado 'downsizing', que significa fortalecer o motor pequeno para dar a ele desempenho de motor grande, com a vantagem de redução de emissões", afirma o presidente do grupo Fiat, Cledorvino Belini.
Em relação à possibilidade de a Fiat ficar com as operações GM no Brasil, o professor José Roberto Ferro, um estudioso em manufatura automotiva, vê poucas chances de sinergias. Ele lembra que nos últimos anos ambas se desenvolveram em áreas vitais como pesquisa e desenvolvimento e engenharia. "As duas empresas investiram na criação de centros poderosos de desenvolvimento de produto", lembra.
No que diz respeito à manufatura, as duas empresas têm fábricas no Brasil e na Argentina. Haveria uma vantagem para a Fiat se o México estivesse incluído no pacote, já que a montadora italiana não tem nenhum tipo de operação industrial naquele país.
Em relação aos modelos de veículos vendidos na América do Sul, a General Motors se dá melhor em automóveis de médio e grande porte enquanto a montadora italiana, apesar dos esforços em lançamentos como o modelo Linea, ainda tem seu ponto mais forte nos veículos pequenos.
Mas ainda assim, Ferro afirma que haveria uma repetição de diversos tipos de modelos se ambas se unissem. É o caso de Uno e Palio, da Fiat, com Celta e Corsa, da General Motors. A situação brasileira é diferente da Europa, onde a Opel proporcionaria uma complementaridade de produtos, diz Ferro.
Nas exportações, porém, é muito provável que a Fiat viesse a tirar vantagem da força que a GM tem em determinados mercados, como Colômbia e Venezuela.
A falta de oportunidades para sinergias pode ser um problema para a Fiat. Vale lembrar que a união do passado foi uma mera parceria, na qual as duas empresas compartilharam, por exemplo, a área de compras, o que lhes deu uma grande força na negociação com os fornecedores.
Mas no caso que se cogita hoje, seria uma compra de operações da GM pela Fiat. Isso implica em um necessário enxugamento de operações. Para Ferro, colocar a casa em ordem de duas das três maiores fabricantes de veículos do país não levaria menos do que dois ou três anos. "É muita coisa se levarmos em conta que a Fiat já terá trabalho suficiente com a Chrysler", destaca o professor. No caso de Chrysler, o maior objetivo da montadora italiana é ingressar no mercado americano, do qual ainda não participa.
Em termos financeiros, apesar da vantagem em relação principalmente às montadoras americanas, a Fiat estava no fundo do poço há poucos anos. Em 2002, a empresa lutava para conter prejuízos e restaurar participação de mercado.
No caso brasileiro, com a junção das duas surgirá uma companhia dona de quase a metade do mercado. Para Ferro, é mais provável que, com o tempo, uma fatia de mercado tão grande venha a diminuir pela ação de concorrentes que agem de forma mais modesta no mercado brasileiro, como é o caso das japonesas Honda e Toyota, ou das francesas Renault e Peugeot.