Volta rápida: novo Troller T4 se moderniza sem perder a valentia
24/06/2014 | Por:
Daniel Messeder | 3 Comentários
Num mundo onde legítimos jipes estão quase em extinção, a notícia da chegada de um novo Troller, amplamente modificado, está sendo recebida com entusiasmo pelos fãs. Alguns norte-americanos já até começaram o
lobby para que a Ford (dona da marca cearense) lance o modelo por lá como uma espécie de novo Bronco. Pois o novo T4 2015 tem bastante coisa a acrescentar ao legado do jipe, com um conjunto mais moderno para uso urbano sem perder em nada a capacidade fora-de-estrada – pelo contrário.
CARPLACE já teve a oportunidade de acelerar o jipão no asfalto e na terra.
O que é?
Quando a Ford assumiu o controle da Troller, em 2007, confesso que cheguei a temer pelo futuro da empresa nordestina. Afinal, a pequena fábrica em Horizonte (CE) tinha produção quase artesanal, uma filosofia completamente oposta à era global da Ford, disposta a oferecer os mesmos modelos nos principais mercados onde atua. No começo, a marca do oval azul se limitou a modificar algumas peças do acabamento do jipe, substituindo itens oriundos da VW por componentes do EcoSport (ainda do modelo antigo). Depois, trocou o motor 2.8 turbodiesel pelo novo 3.0 eletrônico e promoveu um leve redesenho na dianteira. Mas a grande mudança vem agora na linha 2015.
Começando pela fábrica, a área construída passou de 15 para 21 mil m2, enquanto a produção foi modernizada com novos equipamentos de moldagem por compressão a quente e novas prensas. Não por acaso, um dos destaques da nova geração do jipe é justamente a carroceria, agora feita de compósito, uma mistura de aço e fibra de vidro, mais leve e mais simples de moldar. Fora isso, o T4 recebeu uma estrutura tubular metálica interna que forma um tipo de “célula de sobrevivência” para os ocupantes. Boa notícia se lembrarmos que o jipe não oferece airbags – ele se enquadra numa brecha da lei.
Além do novo material, a carroceria também cresceu em comprimento (4.095 mm total), largura (1.977 mm) e distância entre-eixos (2.585 mm), visando melhorar o espaço na cabine e o conforto ao rodar. Na parte de baixo, o chassi de longarinas foi praticamente todo refeito (a Ford diz ter mudado cerca de 1.700 dos mais de 2.000 componentes do T4), mantendo apenas os eixos rígidos Dana 44-3 na dianteira e Dana 44-4 na traseira, ambos com molas helicoidais. Toda a geometria da suspensão e acerto de molas e amortecedores também passou por revisões.
Ainda na parte mecânica, o T4 ganhou o poderoso powertrain da Ranger turbodiesel: o novo motor 3.2 Duratorq de cinco cilindros com turbo de geometria variável, responsável por fornecer respeitáveis 200 cv de potência e 48 kgfm de torque logo a 1.700 rpm – aumento considerável em relação aos 165 cv e 38,8 kgfm do propulsor 3.0 anterior. Para acompanhar, veio também o câmbio de seis marchas da picape (exatamente com as mesmas relações) e o sistema de tração com as opções 4×2 traseira, 4×4 high (selecionável até 120 km/h) e 4×4 reduzida – tudo com acionamento eletrônico por uma chave seletora no console. Afora o melhor desempenho, a Ford também revela que o consumo diminuiu: segundo testes do Inmetro, o novo T4 faz médias de 9,8 km/l na cidade e 12,3 km/l na estrada.
O visual mais parrudo e moderno (tem até lanternas de LED’s) vem acompanhado de melhorias na capacidade fora-de-estrada. Apesar do entre-eixos alongado, a Troller informa ter ampliado a distância do solo (mínima de 20,8 cm e máxima de 31,6 cm), de modo que o ângulo central chegou a 30 graus (1 grau a mais que antes). Já os ângulos de entrada e saída, que definem a capacidade de superar obstáculos sem raspar os para-choques, são de 51 graus – ganho de 1 grau na frente e expressivos 14 graus atrás, diminuindo a chance de a traseira bater na saída de um rio, por exemplo. Por falar em água, o novo T4 tem capacidade de atravessar alagados de até 80 cm – com a tomada de ar lateral elevada, que vem com pré-disposição para instalação de snorkel (acessório).
Destoa apenas a escolha da Troller por pneus mais voltados ao asfalto, Scorpion ATR 255/65 com banda 70% on e 30 % off-road. O ideal seria ter de série um solado de uso misto 50/50%, listado como acessório. Para os mais radicais, a marca também oferecerá pneus lameiros BF Goodrich 80% off e 20% on nas revendas. Antes, a instalação de pneus deste tipo, tão comum entre os Trolleiros, acarretava em perda da garantia do jipe. Garantia, aliás, que agora passa a três anos, como nos demais modelos da Ford.
Como anda?
Ao entrar no T4 2015, temos a sensação de estar num carro menos espartano. Chama a atenção o painel com quadro de instrumentos da Ranger, com direito até a computador de bordo. O console traz ar digital de duas zonas (luxo na trilha!) e entre os bancos há bom espaço para pertences, copos e garrafas. No painel à frente do carona, uma boa novidade para quem vai equipar o carro para raids e ralis: há uma tomada 12V e uma tampa que desencaixa para abrir espaço para o encaixe dos equipamentos de navegação.
O espaço interno ficou mais amplo e os bancos oferecem um pouco mais de conforto, mas atrás o aperto continua, apesar do entre-eixos ampliado. O porta-malas está 40 litros maior, porém, ainda com somente 134 litros de capacidade. O volante e os comandos de seta emprestados da Ranger ficaram muito bons, mas a alavanca de câmbio da picape ficou um tanto baixa em relação à direção – era mais à mão no antigo T4. Senti falta também de um apoio para o pé esquerdo, que fica “solto”. O acabamento melhorou com as peças da Ranger e o painel está menos artesanal, mas ao menos na unidade avaliada (pré-série) as coberturas plásticas das portas estavam ligeiramente soltas, revelando que há espaço para melhoria na montagem.
Em movimento, encontramos o jipão de sempre. A Ford espera que o novo modelo seja usado também pelo cliente mais urbano, mas o T4 continua um off-road de verdade e, como tal, tem suas limitações no asfalto. A direção é lenta e um tanto pesada, enquanto as suspensões de curso longo pedem cautela com a inclinação da carroceria nas curvas. Em compensação, os freios a disco nas quatro rodas agora têm ABS (com modo off-road) e a dianteira está mais obediente. No antigo Troller a gente viajava fazendo correções no volante o tempo todo, pois a frente passarinhava. Agora isso parece ter melhorado.
O ruído interno também está menor, ainda que o motor a diesel se faça ouvir com intensidade na cabine – coisa que agrada aos jipeiros -, enquanto a sexta marcha deixou o giro mais baixo em velocidades de viagem. O câmbio, por sinal, tem engates um pouco duros como na Ranger. Melhor é o motorzão 3.2 cheio de torque, que empurra o jipe de mais de duas toneladas com vigor mesmo em marchas médias.
A força do T4 é tamanha que, na trilha preparada para o test-drive, nem houve necessidade de engatar a reduzida – com relação de 2,72, contra 2,48 do antigo. Mesmo em segunda marcha, com giro baixo, bastava acelerar de leve que o jipe encarava as subidas com erosões numa boa. Nas descidas íngremes, a primeira marcha segurava o jipe com firmeza. Quem já apreciava a valentia do antigo modelo vai se impressionar com o poderio do novo T4. E o conforto? Bem, a suspensão parece um pouco menos seca na buraqueira, mas continua um tanto “cabrita”, transmitindo muita robustez e garantindo o pula-pula na cabine. Faz parte de andar de jipe.
Quanto custa?
Praticamente sozinho no mercado de jipes, ainda mais depois que o Land Rover Defender se despediu, o novo T4 vai cobrar cerca de 15% a mais pela sua evolução. A Ford ainda não definiu o preço final, por alegar que o modelo só chega às lojas no fim de agosto, mas espere algo entre R$ 110 mil e R$ 120 mil – ainda com distância segura do Jeep Wrangler, tabelado a R$ 154.900. Haverá ainda uma linha de 130 acessórios, entre para-choque off-road (mais alto), guincho elétrico, snorkel e até proteções inferiores com chapa de 6 mm, entre outros itens.
Com o T4 2015, a Troller dá seu maior passo desde que foi adquirida pela Ford. Tanto que a expectativa vendas do novo jipe é de cerca de 220 unidades/mês, quase o triplo do que vende hoje. Além de novas concessionárias (serão 21 até o fim do ano), a marca cearense deverá ampliar a oferta de modelos num futuro próximo. Sabe-se que uma versão alongada do jipe, com quatro portas, é um sonho antigo que agora a Ford pode tornar realidade.
Por Daniel Messeder, de Itupeva (SP)
Fotos Divulgação
Ficha Técnica: Troller T4 2015Motor: dianteiro, longitudinal, cinco cilindros em linha, turbo de geometria variável, 3.198 cm³, diesel;
Potência: 200 cv a 3.500 rpm ;
Torque: 48 kgfm de 1.700 a 2.500 rpm;
Transmissão: manual de seis marchas, tração 4×2 (traseira), 4×4 e 4×4 reduzida;
Direção: hidráulica;
Suspensão: eixos rígidos com molas helicoidais na dianteira e traseira;
Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Rodas: aro 17 com pneus 265/65 R17;
Peso: 2.140 kg;
Porta-malas: 134 litros
Tanque: 62 litros;
Dimensões: comprimento 4.095 mm, largura 1.977 mm, altura 1.966 mm, entreeixos 2.585 mm;
Especificações fora-de-estrada: ângulo de entrada 51°, ângulo de saída 51°, altura livre do solo 20,8 cm;
Galeria de fotos: Novo Troller T4 2015
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