"Relações externas: Brasil não vê avanço para retomada de Doha e quer fechar negociação com bloco europeu em 2010
Acordo entre Mercosul e UE vira prioridade
Sergio Leo, de Brasília
31/07/2009
A negociação de um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia passou a ter, para o Brasil, prioridade maior que as discussões de liberalização comercial na Organização Mundial de Comércio (OMC), anunciou ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Discretamente, com pedidos de sigilo por parte dos europeus, para não criar expectativas, União Europeia e Mercosul terão uma reunião reservada na primeira semana de novembro, para avaliar como retomar as discussões interrompidas em julho do ano passado.
"Não vemos com clareza nenhum sinal de que os atores principais estejam engajados na Rodada de Doha", comentou Amorim, ao receber o ministro de Relações Exteriores da Espanha, Miguel-Ángel Moratinos, mencionando a rodada de liberalização na OMC, iniciada em Doha, capital do Catar. "Temos de concentrar mais esforços no acordo Mercosul-União Europeia", declarou, lamentando a falta de avanços na OMC, num momento de crise, em que é necessário tomar medidas para evitar aumento do protecionismo. "Essas incertezas em relação à rodada nos obrigam a buscar esse acordo."
Moratinos concordou e anunciou a disposição dos espanhóis de incentivar negociações para um acordo ainda na presidência temporária da Espanha na União Europeia, no primeiro semestre de 2010. Europeus e integrantes do Mercosul já vem discutindo o assunto desde junho, quando realizaram uma reunião reservada em Lisboa e marcaram a próxima para novembro, quando assume a nova Comissão Europeia.
Os europeus dizem que só será possível retomar as negociações se ficar claro que se pode concluir um acordo em uma "janela de oportunidade" de seis a oito meses.
"Há vontade política do Brasil e Espanha", comentou Moratinos, lembrando que a Argentina, que presidirá o Mercosul em 2010, também diz estar comprometidas em buscar o acordo em pouco tempo. O governo brasileiro avalia que só será possível um acordo se os europeus mudarem de estratégia e deixarem de exigir o alto grau de concessões em matéria de redução de barreiras ao comércio de produtos industrializados. O Mercosul já aceitou limitar as cotas para produtos como carne e leite em suas reivindicações de abertura no mercado agrícola europeu.
Amorim disse que será possível um acordo se houver "pragmatismo" dos negociadores, como os europeus demonstraram ao fazer acordo com os países andinos, com quem negociaram "flexibilidades" variáveis conforme cada país. "Se houver necessidade de maior flexibilidade para um país em determinado momento, se ajudar na concepção do acordo, seria algo importante", disse Amorim, já indicando que sócios do Mercosul querem participar do acordo com menores concessões que o Brasil.
Segundo Amorim, há uma "conjugação de fatos" que podem facilitar um acordo, nas negociações que foram paralisadas desde o ano passado: a maior disposição da União Europeia a acordos com cláusulas especiais para alguns países, a crise mundial, "e a própria demora na conclusão de Doha".
Os brasileiros temem, porém, que a União Europeia volte à mesa exigindo decisões mais ambiciosas sobre propriedade intelectual e regras de proteção a investimentos, no modelo que se tentou sem êxito na fracassada Área de Livre Comércio das Américas. O fato de que os negociadores concordam em restringir as discussões aos temas de acesso de produtos aos respectivos mercados é um fator positivo, disse Amorim.
Moratinos afirmou que está muito otimista em alcançar um acordo cujos parâmetros serão estabelecidos "após o verão" europeu, neste semestre. Mas indicou que os europeus querem tirar a ênfase sobre venda e compra de mercadorias e estabelecer novos parâmetros de negociação. Os acordos do século XXI não podem se concentrar "na exportação ou importação de carnes ou produtos agrícolas", mas em cooperação para estimular investimentos e fundos especiais destinados a fomentar o desenvolvimento, disse."
FONTE: JORNAL VALOR ECONÔMICO, versão online.
GRIFOS POR MINHA CONTA
Embora seja um tema eminentemente econômico, é interessante para o setor de carros, porque como ocorre com o México, facilitaria a complementação de linhas aqui no Brasil (por exemplo, um Ford Kuga, um VW Golf Plus, um Civic hatch vindos da Europa), além de muito provavelmente facilitar a incorporação de tecnologia nos modelos fabricados por aqui até que se tenha massa crítica para produzir aqui. Só para situar o artigo, desde a época FHC se fala de um acordo com a Europa, sendo problema que temia-se que o mesmo incluísse a importação de padrões dew trabalho, meio ambiente e, ao mesmo tempo, o Brasil fosse alijado de determinados investimentos, simplesmente importando-se determinados produtos, partes e peças e montando aqui (eu mesmo concordava com esta tese). No âmbito do Mercosul, os "parceiros" temiam a perda de mercado no Brasil para produtos europeus, então, nada feito. No(s) governo(s) Lula, fez-se a opção de uma política para a procura de novos mercados, o que foi certo, mas eminentemente centrada nos países mais pobres, o que foi errado. Em vista dos problemas seriados, benefícios indevidos, preferências apenas para os outros, eu passei a achar o Mercosul a maior "roubada", virou algo como o rabo abanando o cachorro. Agora, parece que o juízo voltou à cabeça dos negociadores dos dois lados do Atlântico. Primeiro, porque o Brasil já tem massa crítica suficiente para negociar um acordo sem tanto temor de desindustrialização (em termos, diga-se de passagem) e sócios como a Argentina e Uruguai vão ter que se conformar em ser, SIM, coadjuvantes (exemplo: modelos de carros produzidos nestes dois países tendo como mercado principal o Brasil).
Além do fato evidente que com um acordo destes carros importados da Europa viriam com menos (ou nenhum) Imposto de Importação, além da idéia da complementação de linhas, tal tipo de acordo daria mais voz ao Brasil no desenvolvimento de modelos e apressaria a chegada de lançamentos por aqui. Partes e peças poderiam ser importadas a custo mais baixo facilitando a montagem de modelos novos como, por exemplo, o Golf VI, garantindo o uso de peças brasileiras e dando massa às empresas daqui para se tornarem fornecedoras para a Europa em maior escala. Para quem não tem fábrica no Brasil, como a recém-separada Opel, facilitaria a vinda de modelos para o Brasil a custo competitivo, inclusive como teste para uma eventual abertura de plantas por aqui (alguém aí acredita que a Opel pode ou deve se contentar apenas com a Europa, seja como mercado, seja como unidade de produção?). Enfim, é uma boa notícia e se progredir, podemos ter boas surpresas antes mesmo do Salão do Automóvel do próximo ano.
Acordo entre Mercosul e UE vira prioridade
Sergio Leo, de Brasília
31/07/2009
A negociação de um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia passou a ter, para o Brasil, prioridade maior que as discussões de liberalização comercial na Organização Mundial de Comércio (OMC), anunciou ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Discretamente, com pedidos de sigilo por parte dos europeus, para não criar expectativas, União Europeia e Mercosul terão uma reunião reservada na primeira semana de novembro, para avaliar como retomar as discussões interrompidas em julho do ano passado.
"Não vemos com clareza nenhum sinal de que os atores principais estejam engajados na Rodada de Doha", comentou Amorim, ao receber o ministro de Relações Exteriores da Espanha, Miguel-Ángel Moratinos, mencionando a rodada de liberalização na OMC, iniciada em Doha, capital do Catar. "Temos de concentrar mais esforços no acordo Mercosul-União Europeia", declarou, lamentando a falta de avanços na OMC, num momento de crise, em que é necessário tomar medidas para evitar aumento do protecionismo. "Essas incertezas em relação à rodada nos obrigam a buscar esse acordo."
Moratinos concordou e anunciou a disposição dos espanhóis de incentivar negociações para um acordo ainda na presidência temporária da Espanha na União Europeia, no primeiro semestre de 2010. Europeus e integrantes do Mercosul já vem discutindo o assunto desde junho, quando realizaram uma reunião reservada em Lisboa e marcaram a próxima para novembro, quando assume a nova Comissão Europeia.
Os europeus dizem que só será possível retomar as negociações se ficar claro que se pode concluir um acordo em uma "janela de oportunidade" de seis a oito meses.
"Há vontade política do Brasil e Espanha", comentou Moratinos, lembrando que a Argentina, que presidirá o Mercosul em 2010, também diz estar comprometidas em buscar o acordo em pouco tempo. O governo brasileiro avalia que só será possível um acordo se os europeus mudarem de estratégia e deixarem de exigir o alto grau de concessões em matéria de redução de barreiras ao comércio de produtos industrializados. O Mercosul já aceitou limitar as cotas para produtos como carne e leite em suas reivindicações de abertura no mercado agrícola europeu.
Amorim disse que será possível um acordo se houver "pragmatismo" dos negociadores, como os europeus demonstraram ao fazer acordo com os países andinos, com quem negociaram "flexibilidades" variáveis conforme cada país. "Se houver necessidade de maior flexibilidade para um país em determinado momento, se ajudar na concepção do acordo, seria algo importante", disse Amorim, já indicando que sócios do Mercosul querem participar do acordo com menores concessões que o Brasil.
Segundo Amorim, há uma "conjugação de fatos" que podem facilitar um acordo, nas negociações que foram paralisadas desde o ano passado: a maior disposição da União Europeia a acordos com cláusulas especiais para alguns países, a crise mundial, "e a própria demora na conclusão de Doha".
Os brasileiros temem, porém, que a União Europeia volte à mesa exigindo decisões mais ambiciosas sobre propriedade intelectual e regras de proteção a investimentos, no modelo que se tentou sem êxito na fracassada Área de Livre Comércio das Américas. O fato de que os negociadores concordam em restringir as discussões aos temas de acesso de produtos aos respectivos mercados é um fator positivo, disse Amorim.
Moratinos afirmou que está muito otimista em alcançar um acordo cujos parâmetros serão estabelecidos "após o verão" europeu, neste semestre. Mas indicou que os europeus querem tirar a ênfase sobre venda e compra de mercadorias e estabelecer novos parâmetros de negociação. Os acordos do século XXI não podem se concentrar "na exportação ou importação de carnes ou produtos agrícolas", mas em cooperação para estimular investimentos e fundos especiais destinados a fomentar o desenvolvimento, disse."
FONTE: JORNAL VALOR ECONÔMICO, versão online.
GRIFOS POR MINHA CONTA
Embora seja um tema eminentemente econômico, é interessante para o setor de carros, porque como ocorre com o México, facilitaria a complementação de linhas aqui no Brasil (por exemplo, um Ford Kuga, um VW Golf Plus, um Civic hatch vindos da Europa), além de muito provavelmente facilitar a incorporação de tecnologia nos modelos fabricados por aqui até que se tenha massa crítica para produzir aqui. Só para situar o artigo, desde a época FHC se fala de um acordo com a Europa, sendo problema que temia-se que o mesmo incluísse a importação de padrões dew trabalho, meio ambiente e, ao mesmo tempo, o Brasil fosse alijado de determinados investimentos, simplesmente importando-se determinados produtos, partes e peças e montando aqui (eu mesmo concordava com esta tese). No âmbito do Mercosul, os "parceiros" temiam a perda de mercado no Brasil para produtos europeus, então, nada feito. No(s) governo(s) Lula, fez-se a opção de uma política para a procura de novos mercados, o que foi certo, mas eminentemente centrada nos países mais pobres, o que foi errado. Em vista dos problemas seriados, benefícios indevidos, preferências apenas para os outros, eu passei a achar o Mercosul a maior "roubada", virou algo como o rabo abanando o cachorro. Agora, parece que o juízo voltou à cabeça dos negociadores dos dois lados do Atlântico. Primeiro, porque o Brasil já tem massa crítica suficiente para negociar um acordo sem tanto temor de desindustrialização (em termos, diga-se de passagem) e sócios como a Argentina e Uruguai vão ter que se conformar em ser, SIM, coadjuvantes (exemplo: modelos de carros produzidos nestes dois países tendo como mercado principal o Brasil).
Além do fato evidente que com um acordo destes carros importados da Europa viriam com menos (ou nenhum) Imposto de Importação, além da idéia da complementação de linhas, tal tipo de acordo daria mais voz ao Brasil no desenvolvimento de modelos e apressaria a chegada de lançamentos por aqui. Partes e peças poderiam ser importadas a custo mais baixo facilitando a montagem de modelos novos como, por exemplo, o Golf VI, garantindo o uso de peças brasileiras e dando massa às empresas daqui para se tornarem fornecedoras para a Europa em maior escala. Para quem não tem fábrica no Brasil, como a recém-separada Opel, facilitaria a vinda de modelos para o Brasil a custo competitivo, inclusive como teste para uma eventual abertura de plantas por aqui (alguém aí acredita que a Opel pode ou deve se contentar apenas com a Europa, seja como mercado, seja como unidade de produção?). Enfim, é uma boa notícia e se progredir, podemos ter boas surpresas antes mesmo do Salão do Automóvel do próximo ano.