Küll, acredito que as montadoras fizeram justamente o papo de montadora que tanto conhecemos...
Se na Europa eles propagam o downsize mas vendem o diesel, porque aqui seria diferente? No final, cumprindo a meta, e a desculpa para terem conseguido os incentivos tendo sido aceitas (o que é a questão que você bem pegou aí), acho que se considera que "está valendo"...
O problema mesmo aí é nosso governo ser conivente ou ingênuo em relação a isso. Melhor que não tenha dado dinheiro extra a esse tipo de iniciativa, já que provavelmente continuaríamos na mesma situação - mas com dinheiro público!
Na Europa também não desmentiram isso, mas durante o diesel gate chegaram a ter declarações que o downsize como solução passaria a ser bem menos agressivo - e no diesel ele nunca aconteceu, nem a Europa fingiu se comprometer com isso.
Isso porque em motores muito reduzidos em deslocamento, a tendência é meter mais pressão de turbo e com isso aumentar a diferença entre consumo e poluentes antes da entrada total do turbo e depois da sua pressurização máxima ser atingida.
Nesses casos já estavam prevendo um "diesel gate do downsize" e estavam planejando um certo equilíbrio na coisa, o que de fato tem acontecido com a GM (lançou um motor 1.5), a VW (trocou o 1.4 pelo 1.5) e mesmo BMW por exemplo (trocou-se o Mini 1.6 ou por um 1.5 de menor potência ou por um 2.0 logo de uma vez).
Além dessa questão, existe uma certa má explicação intencional aí dos fabricantes e mesmo de certos reguladores que têm vontade comercial e ideológica de vender essa solução ao mundo (Europa). Num carro fisicamente perfeito, que nem naquelas hipóteses de física onde se considera um ambiente perfeito (no vácuo, por exemplo) para determinado cálculo, realmente quanto menor o motor, mais econômico.
O problema é que na vida real um carro leve pesa 900 quilos e não 10. E a média fica acima disso, claro. Como motores reais também são imperfeitos, mesmo os elétricos, e entregam sua potência ou eficiência máximas apenas em certos regimes e lidam bem com esse peso apenas nesses pontos, temos muitas coisas que parecem contraditórias mas são simplesmente verdade.
Empiricamente temos tantos exemplos de carros de motor maior fazendo médias de consumo melhores que motores menores justamente por isso. Meu Corolla era quase tão econômico quando o Fit 1.5 que tínhamos e ganhava em média na cidade ou na estrada de todos os outros carros que já tivemos, de 1.3 a 2.0, inclusive carros mais leves - porque aí entra, além do peso, coisas como relação de marchas, normas de poluente, características do motor (onde, inclusive, é comum que um motor MAIS FRACO de baixa seja mais econômico que um que estaria mais otimizado nessa faixa, pois se tem menos aceleração) etc.
Esses dias vi um vídeo no Youtube de um cara fazendo 1 KM/L a mais na média de estrada com um Corvette de SETE LITROS que um Jetta 2.5 - ambos da mesma pessoa, usando os mesmos combustíveis e dirigidos da mesma forma, que no caso era mantendo a velocidade máxima normal.
Isso é perfeitamente normal e até algo que já tinha virado um não-mistério, mas parece ter sido convenientemente esquecido. No caso dos europeus serviu para ter números bonitos que ajudavam a enquadrar as empresas na média de emissões, além de um fortíssimo argumento de venda (ainda que nem sempre verdadeiro). No caso de um plano mais ideológico, se tem a entrada desses carros em mercados onde se tinha menos presença dos europeus, com a desculpa da ecologia (que inclusive dá margem a vantagens via regulamentação). E também um fortíssimo elemento, dessa vez inteiramente verdadeiro, de incentivo a uma grande eletronização, automatização e complicação dos carros.
Tudo isso aí leva a ir viabilizando e tornando aceitáveis idéias como proibição ou restrição da condução por humanos e mesmo dos elétricos (todos esses, claro, sempre automáticos, sempre caros e complexos).
Retornando à parte mais técnica, sim, ao menos nos carros onde há necessidade de maior potẽncia, por causa do peso, eles fazem mais sentido se a idéia é economia - porque nesses casos substituem motores realmente muito maiores. E sim, resta ver o que seria feito em relação a isso no tal novo acordo. Como não há nada obrigando essa solução, o que é bom, a priori é: que vença o melhor (e sabemos que esse melhor vai ser trazido a conta gotas e empurrando com a barriga, como foi antes).
Perceba também que se caminhos mais tradicionais foram melhores para cumprir essas metas por lá, na parte legal/prática da coisa, desonsiderando partes mais marqueteiras ou políticas, também é mais um motivo para ser o mesmo de sempre aqui.
Para mim, portanto, vai ser mesmo o mesmo que antes, salvo caso de canetada ou de alguma canalhice como pedirem dinheiro com essa desculpa - e o governo deveria negar, até porque já deu incentivos e lá fora esses motores, se forem mesmo necessários, estão prontinhos e até já estão em parte aqui no Brasil.
Feliz 2019, Küll! Fique com Deus!