Primeira impressão: Chery CieloNeste mês o segmento de hatchs médios ganhou
mais um participante. Ele é maior do que o VW Golf, mais potente do que o
Ford Focus e tão completo como o Citroën C4. Além disso, seu preço é
inferior a todos os seus concorrentes. Interessou? Faltou um detalhe:
ele é chinês. Será que isso pesa?
Produzido pela Chery, o Cielo
chega ao Brasil repleto de dúvidas e preconceitos. Para conferir como
anda o mais novo sino-brasileiro, o
WebMotors viajou até Brasília
(DF) e conta onde o Cielo nada de braçada - e onde ele pode se afogar.
MultinacionalNome
de brasileiro, cara de italiano e coração de chinês. Exemplo da
globalização, o Cielo precisou ser rebatizado no Brasil devido a
questões autorais com a Audi – na China seu nome é A3. Já o desenho foi
feito pelo estúdio Pininfarina, famoso por desenhar os principais
modelos da Ferrari.
A mistura deu certo. O nome, escolhido por
votação via internet, é fácil de pronunciar e está consolidado no
vocabulário popular. Já o visual do carro explica por que a Itália é
referência em design. Com linhas suaves, o hatchback tem desenho
agressivo sem exagerar. A carroceria foi projetada nos mínimos detalhes,
que incluem a maçaneta da porta traseira escondida, o brake-ligh
proeminente no teto, duas ponteiras de escape (funcionais) e ausência de
limpador traseiro.
“Você não disse que o carro era tão completo
como o C4?”, me questionarão os atentos leitores. De fato, o Cielo é
recheado: ar-condicionado, direção hidráulica, trio-elétrico, ABS e
airbag duplo vêm de fábrica. Contudo, o limpador traseiro não existe nem
como opcional, apesar de haver espaço para a máquina do equipamento na
tampa do porta-malas.
A justificativa da fábrica é que o próprio
desenho da carroceria se encarregaria de limpar o vidro traseiro.
Apesar da inclinação da tampa ser próxima da encontrada no Ford Focus –
que possui o equipamento –, somente o (mau) tempo dirá se a Chery
acertou ao tirar a palheta traseira de seu hatch.
Por dentroAo
abrir a porta do Cielo, a primeira surpresa: os comandos das travas
elétricas e o bloqueio dos vidros traseiros são iguais aos encontrados
no Golf e Bora. Longe de ser um problema, o compartilhamento de
componentes é comum entre fabricantes (apesar de boa parte dessas peças
não estar ao alcance dos olhos).
O banco tem tons claros e o
encosto é envolvente, “abraçando” o motorista. Está longe de ser um
Recaro, mas pode agradar aos motoristas (e seu carona) que gostam de
fazer curvas mais rápidas. O console central conta com dois grandes
portas-trecos, um deles similar a um painel digital central. O
verdadeiro painel fica à frente do motorista, reunindo os mostradores
básicos: velocímetro, conta-giros, indicador de nível de combustível e
temperatura do motor, além de um pequeno visor de cristal líquido.
O
ar-condicionado de acionamento manual possui regulagens um pouco duras,
mas tem potência suficiente para os mais calorentos. Abaixo dele ficam
dois porta-copos escamoteáveis e outro porta-trecos. Do lado esquerdo do
volante (com regulagem de altura) ficam os comandos dos retrovisores
elétricos e alteração de altura do facho do farol.
Com 2,55 m de
entre-eixos, o espaço interno é suficiente para acomodar com conforto
quatro adultos. A coluna C, muito inclinada, incomoda passageiros que
tem mais de 1,75 m de altura. Os bancos são macios e possuem estampa
clara, pouco comum no Brasil, mas que dá sensação de espaço. O
acabamento geral do carro é bom, com plásticos agradáveis ao toque e com
poucas rebarbas. A qualidade de construção é condizente com o preço.
Ao
volanteA unidade avaliada era destinada ao test-drive dos
clientes da concessionária Dali. Por questões do seguro do veículo,
nosso percurso ficou restrito a um trajeto de pouco mais de um
quilômetro nos arredores da revenda. O traçado incluía uma avenida
movimentada repleta de lombadas e semáforos, permitindo analisar o
comportamento do Cielo nas grandes cidades.
A chave canivete dá a
partida no motor 1,6-litro 16V de 117 cv de potência (a 6.150 rpm).
Movido somente a gasolina, o propulsor tem funcionamento silencioso, em
parte graças às mantas acústicas adotadas no cofre do motor. O comando
de válvulas não possui variador, o que justifica o torque em elevadas
rotações. São 147 Nm (15 kgfm) entre 4.300 rpm e 4.500 rpm.
O
problema fica mais evidente em saídas de semáforos, obrigando o
motorista a pisar fundo para acompanhar o fluxo. O quatro-cilindros só
ganha fôlego acima das 3 mil rotações por minuto, o que pode elevar o
consumo do carro, mensurável pelo mostrador digital no painel.
A
suspensão é firme sem incomodar e pode surpreender os críticos por sua
arquitetura, independente nas quatro rodas, como no Ford Focus. Apesar
de não ter exagerado nas curvas, foi possível notar que o carro
transmite segurança para o motorista comum. O freio a disco nas quatro
rodas é gradual e assistido pelo ABS. Pneus 205/55 com rodas de 16
polegadas entram na tendência do segmento de aros maiores.
MercadoAté
abril de 2010 foram vendidos 2.522 unidades entre os principais modelos
chineses oferecidos no Brasil. A maioria entra no segmento de pequenas
vans e picapes voltados para o comércio, mas os 698 Tiggo faturados indicam que o mercado está,
gradualmente, recebendo os modelos oriundos da China.
As dúvidas
que ainda pairam sobre a confiabilidade e manutenção dos veículos estão
entre as prioridades das chinesas. Assim como o Tiggo, o Cielo tem três
anos de garantia total e conta com cerca de 50 revendas no Brasil
inteiro. E vem mais por aí: os primeiros carros da JAC já chegaram ao
país para homologação, com vendas previstas para o segundo semestre.
A
fatia do mercado nacional das chinesas ainda é pequena, mas pode
aumentar. As fábricas do outro lado da grande muralha estão se afastando
do estereótipo de fotocopiadoras e estão aprendendo a fazer carros
melhores e mais atraentes – assim como fizeram as japonesas e
sul-coreanas há duas décadas.
ResumoCustando mais
de R$ 10 mil a menos do que alguns concorrentes, o Cielo é honesto:
possui acabamento e desempenho próximo de seus rivais, com a vantagem de
um desenho atual. A dúvida se restringe apenas se o Cielo irá ficar
restrito a um pequeno volume de vendas ou se terá forças para nadar no
mar aberto dos hatchs médios.
FICHA TÉCNICA – Chery Cielo HatchbackMOTOR | Quatro tempos, quatro cilindros em linha, transversal, refrigeração a água, 1.597 cm³ |
POTÊNCIA | 117 cv (gasolina) a 6.150 rpm |
TORQUE | 147 Nm (gasolina) a 4.300 rpm |
CÂMBIO | Manual, com cinco marchas |
TRAÇÃO | Dianteira |
DIREÇÃO | Por pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica |
RODAS | Dianteiras e traseiras em aro 16” de liga-leve |
PNEUS | Dianteiros e traseiros 205/55 R16 |
COMPRIMENTO | 4,28 m |
ALTURA | 1,47 m |
LARGURA | 1,79 m |
ENTREEIXOS | 2,55 m |
PORTA-MALAS | 337 l |
PESO (em ordem de marcha) | 1.375 kg |
TANQUE | 64 l |
SUSPENSÃO | Dianteira independente, tipo McPherson; traseira independente, tipo multibraço |
FREIOS | Discos ventilados na dianteira e sólidos traseira |
CORES | - |
PREÇO | R$ 42.900 |
Fonte: WebMotors