As montadoras poderiam produzir 900 mil veículos a mais neste ano. Poderiam. Mas a falta de peças já ameaça as linhas de montagem
Por Hugo Cilo
Durante toda a semana, o vice-presidente da Renault do Brasil, Alain Tissier, perdeu horas ao telefone para solucionar um único problema: a falta de uma peça do Sandero, o líder de vendas da marca no País. “Enquanto converso com você, estou pensando em como resolver isso.
A cadeia automobilística está no limite. Os fornecedores não têm conseguido acompanhar o nosso ritmo”, disse o executivo à DINHEIRO, da fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná. Pode-se interpretar a preocupação dele de formas distintas.
Uma visão otimista é que o setor automobilístico brasileiro vive o mais vigoroso momento da história. De acordo com a Anfavea, a associação que representa as montadoras, a produção de veículos entre janeiro e julho ficou em dois milhões de unidades, 18,3% acima do mesmo período de 2009.
Para o ano, a previsão é de 3,4 milhões de veículos. As vendas internas bateram o recorde histórico do mês de julho e atingiram 315,9 mil unidades. Já as exportações dispararam 85,4% no mês passado, na comparação anual, um movimento de clara reação dos mercados internacionais. Embora a demanda aquecida seja motivo de comemoração, a indústria automotiva começa a pagar o preço do sucesso.
Hoje, ela sofre com a falta de autopeças. Na prática, o setor chegou ao limite. As quatro maiores montadoras – Fiat, Volkswagen, GM e Ford – já trabalham perto de 90% da capacidade instalada.
Mas não é isso que está tirando o sono dos executivos do setor e, sim, a incapacidade dos fornecedores de autopeças de atender aos seus pedidos, que não param de chegar, mesmo quatro meses depois do fim do estímulo fiscal dos tempos da crise.
Hoje, faltam alguns componentes fundamentais, de pneus a estofamento e lâmpadas. Apesar dos US$ 12 bilhões de investimentos programados pelas montadoras para os próximos três anos e do maior nível de emprego nas fábricas em 19 anos (132,1 mil trabalhadores), são entraves como esses que podem interromper os sucessivos recordes de venda.
“É fato que existem alguns problemas com alguns segmentos, principalmente pneus e peças fundidas e forjadas”, admitiu à DINHEIRO o presidente da Fiat e da Anfavea, Cledorvino Belini, na quinta-feira 5.
“Alguns fornecedores não têm a mesma habilidade de acelerar a fabricação como nós. Se continuar assim, poderemos buscar peças lá fora.” O presidente do Sindipeças, Paulo Butori, reconhece que há problemas.
Segundo ele, as fundições, forjarias e estamparias estão, em alguns casos, com dificuldades para atender pedidos adicionais porque têm contratos a cumprir no mercado externo. Outro problema está no preço das matérias-primas. “As altas da borracha e do aço no mercado internacional causaram problemas de abastecimento no Brasil”, afirmou.
Matematicamente, esse descompasso na indústria automobilística não deveria existir. A atual capacidade produtiva das montadoras é de 4,3 milhões de veículos por ano, diz a Anfavea, 900 mil a mais do que deve sair das fábricas em 2010. Mas, aparentemente, as fabricantes esqueceram de avisar seus fornecedores.
Os sinais de problemas nas linhas de montagem do Brasil não ameaçam apenas o abastecimento das concessionárias, mas podem afetar até o mercado argentino. Algumas fabricantes, como a Renault, já estudam reduzir o envio de motores e componentes ao país vizinho.
No caso da montadora francesa, Alain Tissier afirma que a redução das exportações à unidade de Córdoba é um dos mecanismos em análise para evitar um problema no mercado brasileiro. “Administrar a produção com esse cenário se tornou um desafio”, disse.
O setor de caminhões também está passando por dificuldades na cadeia de produção. Quem decidir comprar um caminhão hoje poderá ficar na fila de espera por até três meses.
Não é para menos. Entre janeiro e julho, as vendas do segmento extrapesado (acima de 3,5 toneladas, para transporte de carga de longa distância) subiram 98% contra os primeiros sete meses de 2009. Ao comparar as 14,7 mil unidades em julho deste ano com julho de 2009, o aumento foi de 52%.
Resultado: tem caminhão que sai das revendas sem pneus, bancos e até limpador de para-brisas, componentes que são depois comprados no mercado paralelo. “Estou há 50 anos nesse negócio.
Oscilações são características do mercado brasileiro, mas nunca vi uma variação como essa”, disse o vice-presidente da Iveco, Antonio Dadalti. “É um termômetro de que a atividade econômica está superaquecida.”
FONTE: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/30535_UMA+INDUSTRIA+NO+TOPO+E+NO+LIMITE
COMENTÁRIOS: E isso produzindo apenas carros "baratos". Investir aqui para produzir modelos novos PARA QUÊ se qualquer velharia está sendo produzida à toda? Lembro ainda que pouco tempo atrás foi decidido pelo FIM do redutor de Imposto de Importação sobre partes e peças para "fomentar a produção nacional", ou seja, eles conseguiram um benefício que evidentemente NÃO TÊM CONDIÇÕES DE CUMPRIR, pois se agora, quando provavelmente ainda existem estoques de peças importadas está havendo falta, imaginem quando estas peças acabarem: AUMENTOS DE PREÇOS, que vão ser repassados pelas montadoras a nós, consumidores. Quando não, se a decisão for revista, o que vai ocorrer é um deslocamento de produção, beneficiando produtores de partes e peças lá fora, em crise, deixando de criar empregos aqui dentro. No grifo, por minha conta, lembro aos colegas que trabalhos internacionais do setor dão como ponto de partida para a necessidade de investimento no aumento da capacidade, quando esta chegar 83% ou seja, aqui este ponto já passou faz tempo, lembrando que com capacidade produtiva de 4,3 milhão de unidades/ano, lá para 2.013 já chegaremos a uma produção de 5 milhões de unidades ano, previsto para ocorrer em 2.015. E ainda assim, com carros "baratos", velharias mesmo.
Por Hugo Cilo
Durante toda a semana, o vice-presidente da Renault do Brasil, Alain Tissier, perdeu horas ao telefone para solucionar um único problema: a falta de uma peça do Sandero, o líder de vendas da marca no País. “Enquanto converso com você, estou pensando em como resolver isso.
A cadeia automobilística está no limite. Os fornecedores não têm conseguido acompanhar o nosso ritmo”, disse o executivo à DINHEIRO, da fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná. Pode-se interpretar a preocupação dele de formas distintas.
Uma visão otimista é que o setor automobilístico brasileiro vive o mais vigoroso momento da história. De acordo com a Anfavea, a associação que representa as montadoras, a produção de veículos entre janeiro e julho ficou em dois milhões de unidades, 18,3% acima do mesmo período de 2009.
Para o ano, a previsão é de 3,4 milhões de veículos. As vendas internas bateram o recorde histórico do mês de julho e atingiram 315,9 mil unidades. Já as exportações dispararam 85,4% no mês passado, na comparação anual, um movimento de clara reação dos mercados internacionais. Embora a demanda aquecida seja motivo de comemoração, a indústria automotiva começa a pagar o preço do sucesso.
Hoje, ela sofre com a falta de autopeças. Na prática, o setor chegou ao limite. As quatro maiores montadoras – Fiat, Volkswagen, GM e Ford – já trabalham perto de 90% da capacidade instalada.
Mas não é isso que está tirando o sono dos executivos do setor e, sim, a incapacidade dos fornecedores de autopeças de atender aos seus pedidos, que não param de chegar, mesmo quatro meses depois do fim do estímulo fiscal dos tempos da crise.
Hoje, faltam alguns componentes fundamentais, de pneus a estofamento e lâmpadas. Apesar dos US$ 12 bilhões de investimentos programados pelas montadoras para os próximos três anos e do maior nível de emprego nas fábricas em 19 anos (132,1 mil trabalhadores), são entraves como esses que podem interromper os sucessivos recordes de venda.
“É fato que existem alguns problemas com alguns segmentos, principalmente pneus e peças fundidas e forjadas”, admitiu à DINHEIRO o presidente da Fiat e da Anfavea, Cledorvino Belini, na quinta-feira 5.
“Alguns fornecedores não têm a mesma habilidade de acelerar a fabricação como nós. Se continuar assim, poderemos buscar peças lá fora.” O presidente do Sindipeças, Paulo Butori, reconhece que há problemas.
Segundo ele, as fundições, forjarias e estamparias estão, em alguns casos, com dificuldades para atender pedidos adicionais porque têm contratos a cumprir no mercado externo. Outro problema está no preço das matérias-primas. “As altas da borracha e do aço no mercado internacional causaram problemas de abastecimento no Brasil”, afirmou.
Matematicamente, esse descompasso na indústria automobilística não deveria existir. A atual capacidade produtiva das montadoras é de 4,3 milhões de veículos por ano, diz a Anfavea, 900 mil a mais do que deve sair das fábricas em 2010. Mas, aparentemente, as fabricantes esqueceram de avisar seus fornecedores.
Os sinais de problemas nas linhas de montagem do Brasil não ameaçam apenas o abastecimento das concessionárias, mas podem afetar até o mercado argentino. Algumas fabricantes, como a Renault, já estudam reduzir o envio de motores e componentes ao país vizinho.
No caso da montadora francesa, Alain Tissier afirma que a redução das exportações à unidade de Córdoba é um dos mecanismos em análise para evitar um problema no mercado brasileiro. “Administrar a produção com esse cenário se tornou um desafio”, disse.
O setor de caminhões também está passando por dificuldades na cadeia de produção. Quem decidir comprar um caminhão hoje poderá ficar na fila de espera por até três meses.
Não é para menos. Entre janeiro e julho, as vendas do segmento extrapesado (acima de 3,5 toneladas, para transporte de carga de longa distância) subiram 98% contra os primeiros sete meses de 2009. Ao comparar as 14,7 mil unidades em julho deste ano com julho de 2009, o aumento foi de 52%.
Resultado: tem caminhão que sai das revendas sem pneus, bancos e até limpador de para-brisas, componentes que são depois comprados no mercado paralelo. “Estou há 50 anos nesse negócio.
Oscilações são características do mercado brasileiro, mas nunca vi uma variação como essa”, disse o vice-presidente da Iveco, Antonio Dadalti. “É um termômetro de que a atividade econômica está superaquecida.”
FONTE: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/30535_UMA+INDUSTRIA+NO+TOPO+E+NO+LIMITE
COMENTÁRIOS: E isso produzindo apenas carros "baratos". Investir aqui para produzir modelos novos PARA QUÊ se qualquer velharia está sendo produzida à toda? Lembro ainda que pouco tempo atrás foi decidido pelo FIM do redutor de Imposto de Importação sobre partes e peças para "fomentar a produção nacional", ou seja, eles conseguiram um benefício que evidentemente NÃO TÊM CONDIÇÕES DE CUMPRIR, pois se agora, quando provavelmente ainda existem estoques de peças importadas está havendo falta, imaginem quando estas peças acabarem: AUMENTOS DE PREÇOS, que vão ser repassados pelas montadoras a nós, consumidores. Quando não, se a decisão for revista, o que vai ocorrer é um deslocamento de produção, beneficiando produtores de partes e peças lá fora, em crise, deixando de criar empregos aqui dentro. No grifo, por minha conta, lembro aos colegas que trabalhos internacionais do setor dão como ponto de partida para a necessidade de investimento no aumento da capacidade, quando esta chegar 83% ou seja, aqui este ponto já passou faz tempo, lembrando que com capacidade produtiva de 4,3 milhão de unidades/ano, lá para 2.013 já chegaremos a uma produção de 5 milhões de unidades ano, previsto para ocorrer em 2.015. E ainda assim, com carros "baratos", velharias mesmo.