ACELERAMOS O NOVO BMW I8
Com novo esportivo híbrido de três motores, alemães mostram que acreditam em bruxas; Modelo estará no Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro
por SERGIO OLIVEIRA, DE LOS ANGELES
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12/06/2014 10h04- atualizado às 11h16 em 12/06/2014
BMW i8 (Foto: Divulgação)
“Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”, disse o espanhol Miguel de Cervantes no seu livro “Dom Quixote”. Talvez porque seu país seja o destino favorito dos alemães para passarem as férias, ou simplesmente porque a Floresta Negra pode esconder mais mistérios do que pensamos, os engenheiros e designers da BMW conseguiram fazer alguns milagres para transformá-los em um auto desses nos quais a gente só acredita depois de dirigir.
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Com muita frequência, nós que trabalhamos com carros escutamos a pretenciosa declaração de algum fabricante de haver reinventado o automóvel. No caso da BMW, eles tiveram a elegância de não dizer isso, mas estiveram mais perto do que qualquer marca ao fazer seu mais novo esportivo, parte da “família i”, que terá só carros com inclinações ecológicas. Porque o i8 tem muita coisa diferente. Para começar tem três motores, duas caixas de marcha, tração dianteira, traseira ou integral, além de carroçaria feita de plástico e fibra de carbono. Mas isso não é tudo.
A primeira impressão do i8 já nos deixa com vontade de conhecer mais. O design é mais do que arrojado, chega a ser futurista, mesmo. Pode colocar o i8 num filme de ficção científica que ninguém vai achar estranho. A frente mostra a grade dividida característica da marca da Baviera, mas ela não é aberta como nos carros que usam só gasolina, nem fechada como no seu irmão, o i3. Estão abertas as partes superior e inferior. Embaixo a toma de ar tem persianas que só abrem quando o sistema detecta que precisa de mais ventilação. Debaixo dos faróis de laser, a parte lateral dos para-lamas dianteiros se abrem como uma saia para formar duas entradas de ar que são enviadas para o motor de gasolina, colocado atrás dos bancos e na frente do eixo traseiro.
De lado, o design do i8 lembra duas mãos paralelas, com as palmas olhando uma para a outra, que nunca se encontram. Porque o teto vai baixando de uma forma acentuada. O grande vinco lateral que começa debaixo da linha da porta sobe até quase encontrar o teto. Na altura do vidro, esse desencontro entre teto e lateral forma um túnel que dá ao carro uma grande força aerodinâmica e também produz um dramatismo visual magnífico. Mas o melhor é ver as fotos, ou usaremos todo o texto só para descrever visualmente o automóvel.
Conservador e atrevidoPor dentro, o i8 mostra seu lado mais conservador. Não que seja mal feito, nem tenha um design que nos encha de tédio. Mas é parecido aos demais BMW do topo de linha. A diferença principal é o banco traseiro, onde não cabe quase ninguém que tenha pernas, mesmo crianças. Mas fazem que o carro pague menos impostos nos EUA, um de seus principais mercados.
O i8 é um híbrido “plug in”, o que significa que pode-se conectá-lo numa tomada. Quando isso se faz e as baterias estão completamente carregadas, os dois motores elétricos dianteiros podem fazer o carro andar por uns 35 quilômetros. Neste momento, o i8 tem tração dianteira e caixa de duas marchas.
Quando se quer, ou no momento que se termina a carga das baterias colocadas onde em outros carros estaria o túnel da transmissão, entra em ação o motor central, de gasolina. É o mesmo motor do novo MINI Cooper, com 3 cilindros e 1.5 litros. Mas tem um só turbo, maior, que eleva sua potencia a 234 cv. Quando este motor começa a funcionar, a primeira bruxaria aparece: o som. É inacreditável como esse motor tão pequeno pode soar como se fosse um enorme V8, no mais perfeito estilo dos “muscle car” americanos. Agora, o i8 tem tração traseira.
Coloque o “launch control” e as bruxas trabalham de novo. Somam-se as potências dos 3 motores e os 367 cv do i8 levam o carro a 100 km/h em 4,4 segundos. Isso é o que diz a BMW, mas um jornalista conseguiu fazer o mesmo em 4,2 segundos, durante a apresentação do carro em Los Angeles.
Apesar de seu comportamento esportivo, o i8 não á tão duro de suspensão como outros de sua classe. Na cidade pode-se andar em modo “confort” e os buracos - na Califórnia dizer imperfeiçoes do asfalto é mais preciso - não incomodam muito.
Na estrada, o comportamento é impecável. A direção é rápida, precisa e comunicativa. O cambio automático de seis marchas funciona da mesma maneira. Os freios são um caso à parte. São simples discos perfurados nos dois eixos e a BMW diz que isso é suficiente por causa do freio regenerativo dos motores elétricos. O i8 não precisa de cerâmica nem nada pelo estilo. Também por isso, as pastilhas devem durar três vezes mais.
Os motores elétricos eliminam a necessidade de usar dois turbos no motor, como tem o Mini. Porque a demora para que o turbo comece a funcionar, diminuída pelo turbo menor no caso do Mini e de outros BMW, é compensada pela entrega imediata do torque de 25.49 Kgm dos elétricos. Quando entra o turbo e a gasolina, outros 32.63 Kgm se encarregam de fazer do i8 um carro muito, muito rápido. Bruxaria explicada.
Quem quiser pagar os 135 mil dólares, antes de impostos, que custa o carro nos Estados Unidos, vai ter nas suas mãos um automóvel cujo consumo de gasolina pode chegar até 40 km/litro (carregando as baterias na corrente elétrica e não pela força do motor); com velocidade máxima limitada a 250 km/h; autonomia de até 600 quilómetros (com tanque opcional de 45 litros. O original tem 30) e porta-malas suficiente para colocar uma maleta pequena (154 litros). Mas terá uma maravilhoso esportivo alemão, que chama mais a atenção do que Angelina Jolie andando nua pelas ruas de Beverly Hills. No Brasil, a estreia do i8 é esperada para o Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro.
O único perigo é terminar acreditando em bruxas depois de dirigi-lo. Eu, comecei a acreditar. Os alemães? Ou acreditam, ou são bruxos.